“Não podemos produzir sem equilíbrio ecológico. Nós precisamos de uma natureza intocada para sobreviver economicamente”, como afirma o produtor de soja Joel Carlos Hendges, de Balsas (MA) ao falar sobre agricultura regenerativa, ou Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Essa prática se baseia no uso de estratégias de cultivo que respeitem o meio ambiente, são projetadas para lidar com as mudanças climáticas e, ainda, protegem o solo e a água. Este método não apenas recupera o ecossistema biológico, como também aumenta a produção e a rentabilidade do produtor.
Em um cenário global onde a demanda por produtos agropecuários produzidos sem desmatamento aumenta, principalmente na Europa, a agricultura regenerativa se mostra como uma alternativa do Brasil para contrabalançar as pressões internacionais contra as emissões de gases do efeito estufa. O café é um dos cultivos onde a prática está mais avançada. O Brasil, maior produtor mundial e também o maior exportador, se viu obrigado a adaptar-se à nova exigência dos consumidores por uma produção mais sustentável.
Para ajudar neste processo, a Embrapa Café tem desenvolvido projetos integrados que utilizam braquiária como cobertura do solo entre as fileiras de café, protegendo o solo contra o sol, ventos e erosões. Essa estratégia tem provado impactos regenerativos e reduz o uso de herbicidas em 30% a 40%. Além disso, a temperatura média do solo diminui, o que impede a evaporação direta da água e aumenta sua disponibilidade para a planta em 20%. A Embrapa também tem desenvolvido variedades de café adequados para os diversos ecossistemas do Brasil.
As práticas sustentáveis da São Matheus Agropecuária de Minas Gerais garantiram à fazenda o prêmio Best of the Best, oferecido pelo illycaffè da Itália. O reconhecimento veio após a fazenda investir em processos que aumentam a qualidade do produto. O CEO do grupo BMG, dono da propriedade, Eduardo Dominicale, afirma que “adotamos a agricultura regenerativa, que melhora a fertilidade do solo e eleva a biodiversidade do ecossistema, o que impacta positivamente o produto que chega ao consumidor.”
A Nestlé tem um programa chamado Cultivado com Respeito destinado a tornar a produção de café mais sustentável. Até 2030, eles planejam investir aproximadamente R$ 5,5 bilhões neste programa. A empresa oferece treinamento e assistência técnica para agricultores, ensinando-os a adotar práticas regenerativas de cultivo. As principais práticas incluem a incorporação de biofertilizantes e cultivo entre outras culturas.
A linha Origens do Brasil da Nescafé ganhou a certificação de produto carbono neutro em março deste ano. Segundo a empresa, isto é resultado da adoção de práticas regenerativas, da redução da pegada de carbono ao longo de toda cadeia e do plantio de 1,5 milhão de árvores em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica.
A Amaggi, uma grande empresa do setor que comercializa quase 19 milhões de toneladas de grãos e fibras por ano, lançou o programa Regenera. Desenvolvido com o objetivo de reduzir as mudanças climáticas, o programa busca atingir a neutralidade climática até 2050, utilizando estratégias de descarbonização até 2035. Pedro Valente, diretor de Produção Agro da Amaggi, ressalta que a agricultura regenerativa oferece mais do que conservação, pois melhora a qualidade do solo e equilibra o clima.
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