O historiador britânico Eric Hobsbawm ofereceu em um de seus mais aclamados livros, 'Era dos Extremos - O Breve Século XX', um panorama do século passado, da Primeira Guerra Mundial em 1914 à dissolução da União Soviética em 1991. Não se pode deixar de ter uma visão paralela do significado de 2023 para nosso futuro, com a mesma percepção aguçada de Hobsbawm. O ano passado apresentou extremos contínuos, testando os limites da civilização, com ecos do passado ainda ressoando e dando forma a um caminho incerto para o futuro.
2023 ficará para a história como um ano de marcos radicais e acontecimentos que abalaram as expectativas de um futuro tranquilo. A tentativa de golpe cometida por cidadãos vestindo camisas amarelas em 8 de janeiro em Brasília foi o primeiro de muitos capítulos significativos no país. Na revolta, radicais bolsonaristas insatisfeitos com o retorno de Lula à presidência atacaram os prédios da Praça dos Três Poderes. Felizmente, essa ameaça à democracia foi contida e os perpetradores foram levados à justiça.
Enquanto o Brasil estava envolvido em seu próprio turbilhão, eventos de proporções igualmente terríveis desenrolavam-se em todo o mundo. Em 7 de outubro, um ataque terrorista do Hamas contra Israel reinflamou conflitos no Oriente Médio, provocando uma resposta imediata e brutal de Israel e levando à beira do precipício as tensões globais já inflamadas.
O ano também registrou avanços alarmantes na inteligência artificial, com ferramentas como o ChatGPT, levantando questões éticas profundas. Estas máquinas podem ter dificuldade em identificar os laços entre eventos isolados e entender suas causas e efeitos, mas ao revisitar 2023 é inegável que cada uma dessas ocorrências faz parte de um roteiro maior.
Em fazendo uma retrospectiva de 2023, o que vem à mente é o letra de 'Alô, Alô, Marciano', de Rita Lee, que nos deixou em maio: 'A coisa tá ficando ruça / Muita patrulha, muita bagunça / O muro começou a pichar / Tem sempre um aiatolá pra atolar / Tá cada vez mais down no high society'. Essa canção, escrita em 1980 e imortalizada pela voz de Elis Regina, parece uma descrição perfeita do cenário que emergiu em 2023: cada vez mais polarizado, instável e imprevisível.
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