O próximo ano é provável que apresente para a China, um aumento no desafio que vem sendo o foco central das políticas governamentais nos últimos anos: encontrar um equilíbrio para enfrentar desafios domésticos e pressões externas. Sob a liderança ideologicamente mais forte de Xi Jinping, o Partido Comunista da China se tornou mais interventor nos assuntos internos e mais declarado no palco internacional. A principal prioridade é se preparar para uma longa competição com os Estados Unidos, sem um final aparente à vista.
Um ano após o término abrupto da política de Covid zero, a economia ainda luta para retomar o ritmo de crescimento esperado devido a uma constante crise de confiança impulsionada pelo intervencionismo do Estado, pelo colapso do setor imobiliário e pelas turbulências no cenário externo, entre outros fatores. Vale mencionar que o investimento privado deste ano permaneceu no mesmo nível de 2022, momento em que a economia estava parcialmente paralisada pelas restrições relacionadas à pandemia. Entre os chineses de classes média e média-alta, tornou-se mais comum discutir planos de sair do país e aumentar a proteção contra possíveis turbulências. Nos primeiros nove meses do ano, a demanda por barras de ouro no país disparou, num aumento de 26% em relação ao mesmo período de 2022. De acordo com o jornal “China Daily”, a maioria dos que buscam um ativo seguro contra fortes tempestades são jovens: 91% dos que entraram na “corrida do ouro” têm entre 25 e 44 anos.
Para Barry Naughton, um dos mais renomados especialistas em economia chinesa do mundo, a surpresa dos analistas com a resistência do governo em implementar políticas de estímulo não levar em consideração o que é prioridade para a liderança. O crescimento da economia a qualquer custo não está mais no topo da lista como estava há alguns anos, ele relata. O principal objetivo é 'responder ao desafio americano', e isso se reflete em uma política industrial ampla voltada para a defesa contra dependências externas, principalmente nas novas tecnologias.
No campo diplomático, o novo ano inicia com um sucesso de Pequim em busca de parcerias na competição com o Ocidente. O novo BRICS ampliado entra em vigor no primeiro dia do ano: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os membros atuais, passam a contar com Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, exceto a Argentina, que foi aprovada mas deve ser excluída por decisão de seu novo governo.
A continuação do poder econômico como motor da ascensão global da China e como uma das principais ferramentas diplomáticas não mudou. Porém, a maneira como esse poder é aplicado dentro e fora do país tem evoluído. Na última década sob a liderança de Xi Jinping, o país passou por uma 'transformação sistêmica', relata Barry Naughton, onde o controle do PC sobre a economia e sociedade se tornou central no pensamento do governo, mesmo que isso custe no crescimento.
Deixe um Comentário!