Quando o Japão ainda sentia o trauma dos ataques nucleares americanos que reduziram as cidades de Hiroshima e Nagasaki a cinzas em 1945, o diretor Ishiro Honda e o produtor Tomoyuki Tanaka canalizaram o horror vivido pela nação em uma nova criação cinematográfica, em 1954. A ideia era simples, mas aterrorizante: um dinossauro adormecido despertado e transformado em um gigante pela bomba atômica, causando terror em Tóquio. Assim nasceu 'Gojira', conhecido no Ocidente como 'Godzilla', hoje considerado o 'rei dos monstros' do cinema mundial.
Setenta anos depois, Godzilla continua sendo uma figura proeminente, sendo a inspiração para a série da Apple TV+ intitulada 'Monarch: legado de monstros', centrada na organização que estuda seres como Godzilla, e também protagonista do filme japonês 'Godzilla minus one', que estreou esta semana. De quebra, o monstro ainda irá retomar a rivalidade com King Kong no blockbuster hollywoodiano 'Godzilla e Kong: o novo império', cuja estreia está marcada para 12 de abril de 2024.
O fascínio pelo Godzilla vai muito além do seu status de monstro-mor. Como explica Pedro Henrique Palhano, administrador das páginas Godzilla Brasil no Facebook e Instagram, que somam 50 mil seguidores, se trata de um personagem versátil. 'Os japoneses não fizeram só um filme de monstro, eles deram forma ao horrores da guerra, criaram uma boa representação dos efeitos da intervenção humana na natureza', diz Pedro.
Com quase 40 adaptações ao longo dos anos, incluindo cinco produções de Hollywood, Godzilla é originalmente um produto da radioatividade - uma metáfora dos efeitos devastadores e incalculáveis dessa energia. No entanto, o monstro ganhou diversas outras interpretações ao longo do tempo, tornando-se um personagem altamente lucrativo, segundo o crítico de cinema Carlos Primati.
O filme 'Godzilla minus one', dirigido por Takashi Yamazaki, leva a história de volta ao cenário pós-Segunda Guerra, com um enredo centrado em um kamizake que desiste de se sacrificar e acaba numa ilha onde Godzilla aparece - e mata todos. Atormentado, o personagem retorna a Tóquio, onde se encontra novamente com o monstro e tem a chance de acertar as contas com o passado.
O longa metragem é um sucesso, não só no Japão como também fora dele. Nos EUA, a produção já se tornou o filme japonês mais rentável da história do mercado americano e já arrecadou US$ 57,3 milhões no mundo, além de concorrer ao prêmio de melhor filme estrangeiro no Critics Choice Awards de 2024 e ser pré-candidato ao Oscar de melhor efeitos visuais.
Finalmente, cabe destacar a diferente abordagem dos criadores japoneses e americanos em relação ao monstro. Enquanto no Ocidente Godzilla é geralmente visto como um mal que vem destruir algo bom, no Oriente ele representa a quebra do equilíbrio entre a Humanidade e a natureza, desencadeada pelos testes nucleares.
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