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A engenharia de estelionato em táxis: entenda a mecânica

Ao longo de 2021, ao menos 368 denúncias de fraude contra taxistas foram feitas, correspondendo a uma média de nove registros de estelionato semanalmente.

A persistência do antigo truque da máquina de cartão de crédito e débito continua causando prejuízos a passageiros inadvertidos e lançando um sinal de cautela neste fim de ano entre taxistas da Zona Sul do Rio. A frequência de situações onde viagens curtas resultam em perdas financeiras substanciais pode ser ilustrada pela quantidade de queixas de fraude envolvendo taxistas. No período de janeiro a outubro deste ano, as delegacias da região coletaram 368 denúncias - em média, nove por semana.

Um dos truques frequentemente utilizados é a aplicação de um adesivo escuro na tela do dispositivo, que impede o passageiro de visualizar o valor cobrado. Além disso, um display rachado também pode dificultar a leitura. Em certos casos, sem o passageiro se dar conta, acaba pagando até cem vezes o valor da corrida real.

De acordo com a polícia, não há um perfil padrão para as vítimas - desde um idoso a caminho da consulta médica a um grupo de jovens saindo da balada. O taxista de má fé se aproveita de qualquer oportunidade para encontrar sua próxima vítima.

Um caso específico aconteceu na manhã de 16 de outubro, quando uma senhora de 66 anos pegou um táxi da Praia de Copacabana para Ipanema, na Zona Sul. O motorista foi informado de que ela tinha pressa para um procedimento cirúrgico em um hospital. Ao finalizar o percurso, o taxista afirmou que a corrida custaria R$ 34, valor pago com cartão. No entanto, ao conferir o extrato bancário após sair do veículo, a senhora notou que, na verdade, foram retirados R$ 2.200 de sua conta.

Em um caso semelhante reportado, um homem pagou R$ 1.200 por uma corrida que deveria custar R$ 120 após um show, da estação de metrô do Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, ao Catete, na Zona Sul. A fraude foi detectada posteriormente, quando ele verificou o aplicativo de seu banco.

Felipe Santoro, delegado titular da 37ª DP (Ilha do Governador), orienta que os passageiros confirmem sempre os valores na máquina antes de inserir a senha. Ele aconselha a nunca digitar a senha se o valor não estiver visível no display e sempre pedir o comprovante da transação. Também sugere a ativação do sistema de notificação de compras no celular para conferência. Se houver qualquer suspeita, é melhor escolher outro meio de pagamento. E qualquer tipo de fraude deve ser sempre comunicado, para que o infrator possa ser detido e impedido de causar mais prejuízos.

Devido ao alto volume de ocorrências, a 9ª DP (Catete) chegou a emitir um material educativo com dicas de como a população pode se proteger das ações de estelionatários, incluindo o 'taxista malicioso'.

Indagadas acerca de como lidam com os golpes das maquininhas, as principais empresas de pagamento eletrônico optaram por não se manifestar. Também procurado, o Sindicato dos Taxistas Autônomos do Município do Rio de Janeiro não se pronunciou.

A Secretaria de Ordem Pública do município (Seop), que tem a responsabilidade de fiscalizar os taxistas, relatou que recebeu três queixas através do Portal 1746, da prefeitura, em novembro, sobre essa prática de cobrança indevida através do uso do cartão. Os motoristas serão convocados para prestar esclarecimentos, havendo a possibilidade de instauração de um processo de investigação contra eles, que pode resultar na perda da licença para a profissão de taxista.

No entanto, a secretaria enfatiza que os crimes devem ser investigados pela polícia, para que os infratores possam responder pelos seus atos. A Seop, por outro lado, sugere que, além de ir à delegacia, o cidadão faça a denúncia pelo Portal 1746, fornecendo o maior número possível de detalhes, como o número da placa do veículo, o nome do taxista, a hora e o local onde o incidente aconteceu.

Os principais bancos com agências no Rio foram contactados, mas apenas a Caixa respondeu, se abstendo de comentar sobre o assunto. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) apontou que a responsabilidade pelos comentários caberia à Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs), que também não prestou declarações.

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