O mundo perdeu nesta sexta-feira (15), o filósofo e militante político italiano Antonio Negri, que acabava de completar 90 anos em outubro. A partida de um dos principais ativistas da esquerda radical italiana foi confirmada à agência de notícias italiana ANSA por Oreste Scalzone, ex-líder do Poder Operário , um grupo de esquerda relevante na Itália dos anos 1960 e 1970. Anna Negri, cineasta e filha do filósofo, também manifestou a perda do pai nas redes sociais.
Negri teve um papel preponderante na política italiana durante as décadas de 1960 e 1970, um período caracterizado por instabilidade e marcado por Anos de Chumbo, onde houve um ressurgimento do movimento operário e uma radicalização da esquerda influenciada pelas revoltas de 1968. Negri foi um dos criadores do Poder Operário em 1969 e, após a dissolução do grupo em 1973, contribuiu para a formação da Autonomia Operária, onde foi uma das principais figuras.
Em 1978, Negri foi apontado como idealizador das Brigadas Vermelhas, um grupo extremista de esquerda que assassinou o primeiro-ministro Aldo Moro, o que o levou a ser acusado de terrorismo e preso. Sua detenção mobilizou pensadores europeus como Michel Foucault, Félix Guattari e Gilles Deleuze, que criticaram abertamente a prisão e a legislação antiterrorista italiana. Apesar da acusação não comprovar a conexão de Negri com o crime, o filósofo foi sentenciado a 30 anos de prisão.
Negri foi liberado em 1983, após tornar-se deputado apoiado pelo Partido Radical. Uma vez fora da prisão, optou pelo exílio na França e aproveitou-se da política do presidente socialista François Mitterrand, que se recusava a extraditar membros da extrema esquerda italiana que haviam se refugiado no país. Conseguiu uma posição como professor de filosofia em universidades francesas e retornou à Itália em 1997, alegando uma desilusão amorosa. Lá, terminou de cumprir sua pena, que foi reduzida a 13 anos.
Gennaro Sangiuliano, ministro da cultura do governo de extrema direita de Giorgia Meloni, rotulou Negri como 'um mau professor' devido à influência que teve na radicalização dos jovens universitários. Já o militante e escritor italiano Luca Casarini, utilizou as redes sociais para descrever Negri como 'nosso querido mestre, pai e profeta'. 'Você permanecerá para sempre no meu coração e na minha mente', disse ele.
Nascido em uma família de esquerda em Pádua, Nordeste da Itália, no dia 1º de outubro de 1933, Negri iniciou sua militância política através do cristianismo, sendo membro da Ação Católica. Na juventude, passou um período vivendo em um kibutz israelense. No começo, foi filiado ao Partido Socialista Italiano, converteu-se posteriormente ao comunismo e ministrava aulas de Teoria do Estado na Universidade de Pádua.
Negri, um marxista sui generis, é reconhecido como um dos principais estudiosos de Baruch de Espinosa (1632-1677). Ao lado de outros franceses renomados como Louis Althusser e Gilles Deleuze, contribuiu para a renovação do pensamento do filósofo judeu holandês, apontado como um precursor de Karl Marx. Entre os principais trabalhos literários de Negri estão “Espinosa subversivo”, “A anomalia selvagem: poder e potência em Espinosa”, “O poder constituinte: ensaio sobre as alternativas da modernidade” e “Império”, escrito em colaboração com o filósofo americano Michael Hardt, que analisa as manifestações modernas do imperialismo. Negri é uma das principais influências teóricas dos movimentos que questionam a globalização.
Apesar de suas convicções políticas, o filósofo era um torcedor do Milan, o mesmo time do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, um populista de direita. 'Mas quando a gente é torcedor, aguenta tudo', ele disse uma vez à imprensa brasileira.
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