Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), em Dubai, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, denunciou que os países do Sul-global estão assumindo os custos da transição ecológica dos países desenvolvidos, os quais, ainda assim, já sofrem mais as consequências das mudanças climáticas. Vale ressaltar que o Sul-global é o grupo de países mais afetados pelas alterações climáticas. Segundo Lula, as nações em desenvolvimento estão sendo penalizadas duas vezes.
Lula ressaltou que essa transição ecológica não pode limitar a industrialização desses países, nem reduzi-los a simples exportadores de commodities e de matérias-primas. “Há vários modelos de transição ecológica em direção ao mundo descarbonizado. Uma transição justa não pode nos relegar a uma posição de produtores de commodities e exportador de matérias-primas. Nem inaugurar um novo ciclo de exploração predatória de nossos recursos naturais, em particular dos minerais críticos. Ela tem de nos permitir transformar e diversificar nossas bases produtivas, e avançar na industrialização,” afirmou o presidente.
Lula elogiou o lançamento do fundo climático que proverá indenizações por perdas e danos causados pelo clima. Com efeito, no último dia 30, um conselho de países ricos prometeu um aporte de mais de US $ 400 milhões (aproximadamente R$ 2 bilhões) para implementar este fundo. Segundo o presidente, isso é inspirador para as negociações dos próximos dias.
Para o presidente Lula, é uma questão de justiça climática que os países que mais contribuíram para o aquecimento global assumam suas responsabilidades. Ele ainda apelou por um fluxo constante de recursos para permitir que os países de renda baixa e média possam solucionar seus problemas de endividamento. Na visão de Lula, os países em desenvolvimento precisarão de US $ 4 trilhões a US $ 6 trilhões por ano para implementar suas contribuições nacionalmente determinadas e planos de adaptação ao clima.
Neste contexto, Lula sustentou que é preciso reformar o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que, segundo ele, carecem de representatividade. “No conselho do fundo global para o meio ambiente, Brasil, Colômbia e Equador são obrigados a dividir uma única cadeira, enquanto diversos países ricos cada um ocupam a sua cadeira,” salientou o presidente.
O presidente voltou a invocar a paz mundial e pedir o fim das guerras, referindo-se aos conflitos entre Rússia e Ucrânia e Israel e Palestina. Defendeu também a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, propondo uma maior participação de diferentes países para evitar uma prevalência de irresponsabilidades. Leu sua declaração: “Estamos tentando salvar o planeta, não para destruí-lo em guerra. Ou nós mudamos o conselho de segurança da ONU ou colocamos mais países participando ou a irresponsabilidade irá prevalecer sobre a sensatez daqueles que brigam por paz. Por isso, eu peço aos que estão em guerra, parem de se matar. Sentem numa mesa de negociação e vamos salvar vidas, ao invés de destruí-las.”
Por fim, Lula comentou sobre a inteligência artificial, frisando que os modelos baseados apenas nas experiências dos países do Norte não devem ser impostos sem “diretrizes claras” e “acordadas coletivamente.” O presidente alertou que o mundo não pode repetir a divisão entre aqueles que têm responsabilidades e os que são responsáveis - como aconteceu em discussões sobre desarmamento e não proliferação.
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