A indústria aérea do Brasil está tendo dificuldades em conseguir baixar o preço das passagens aéreas, marcando o maior valor médio dos últimos 14 anos em setembro de 2023, agravado por uma série de desafios. A pandemia do Covid-19 levou a indústria global de aviação a enfrentar a maior crise da sua história, e a situação no país se tornou ainda mais difícil devido às suas questões estruturais.
Em uma entrevista ao Poder360, o economista José Roberto Afonso, identificou a dificuldade das companhias aéreas em obter crédito para a compra de peças, manutenção e aluguel de aeronaves como o principal desafio. Tal obstáculo, afirma Afonso, é consequência do descaso demonstrado pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com Afonso, durante a pandemia, as empresas aéreas tiveram que se endividar por conta da queda na quantidade de vôos. Durante este tempo, o governo federal fez o mínimo para ajudar as companhias aéreas, tornando impossível para o custo deste prejuízo ser repartido entre a população. Agora, a parcela de brasileiros que utiliza o transporte aéreo, cerca de 10% da população, está arcando com esse alto volume de dívidas contraídas. “Os brasileiros não pagaram a conta, quem paga é quem viaja”, ressaltou Afonso.
Como resultado da pandemia, o setor aéreo ficou com um patrimônio líquido negativo, o que dificulta ainda mais a obtenção de crédito para os investimentos necessários e para aumentar a oferta de voos. Esta incapacidade de obter crédito deixa as companhias aéreas brasileiras em desvantagem em relação às empresas estrangeiras, que também estão disputando por esses materiais e recursos.
O governo, preocupado com os altos preços das passagens aéreas, iniciou em dezembro o Programa de Universalização do Transporte Aéreo. A primeira fase do programa envolveu a solicitação de propostas das empresas para reduzir os preços, mas ainda não sugeriu nenhum plano para resolver os problemas estruturais do setor. Para Afonso, é essencial que o governo tome uma ação conjunta entre vários ministérios para resolver essa questão. Segundo o economista, isso envolve o Tesouro e o Banco Central, além do Ministério de Portos e Aeroportos.
“Os problemas vão ser resolvidos só ao longo do tempo, mas já existem ações que o governo pode tomar para melhorar o preço para o consumidor, mesmo no curto prazo”, afirmou Afonso. Ele sugere a vinculação de dados do SUS (Sistema Único de Saúde) com a base de dados das companhias aéreas, para que pessoas com problemas de saúde ou parentes doentes tenham acesso a preços mais baixos.
Jurema Monteiro, a presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), apoia a ideia de utilizar o Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac) como garantidor fundo para empresas que buscam obter recursos. Ela acredita que tal medida tornaria a indústria nacional mais competitiva e ajuda a abordar o problema de crédito das empresas. “O fundo não resolve o problema do passivo das empresas, mas deixa a indústria nacional mais competitiva”, disse Jurema.
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