Uma das bebidas mais tradicionais do Chile, o pisco, é produzida nas extensas plantações de uva espalhadas pelas regiões semidesérticas de Coquimbo e desérticas do Atacama. Nessas regiões, onde chove apenas uma ou duas vezes por ano, 1,5 mil agricultores se dedicam à fabricação deste destilado.
No Chile, o pisco é feito a partir de variedades de uva como a Moscatel e a Pedro Jímenez, cujo sabor é influenciado pelo solo e clima secos do país. É estimado que, ao todo, os produtores destinam 180 mil toneladas de uvas especialmente para a produção da bebida. No entanto, com estiagens cada vez mais severas, existe a preocupação de que a produção possa diminuir drasticamente nos próximos anos. A chuva é fundamental para as plantações de uvas destinadas ao pisco, uma vez que a água que abastece os rios das cidades vem do derretimento da neve na Cordilheira dos Andes.
Jaime Campusano, proprietário do Pisco Waqar, explica que embora o clima seco e a escassez de chuvas diminuam a produtividade das uvas, o estresse hídrico pode resultar em frutos mais doces e saborosos. Por enquanto, apenas grandes produtores têm condições de contornar a falta de chuva através do armazenamento de água para irrigação.
Sebastián Munízaga, gerente do Pisco Los Nichos, a pisqueira mais antiga do Chile, afirma que apesar de sua empresa ter água armazenada suficiente para continuar produzindo no próximo ano, os fornecedores podem não ter a mesma sorte. Ele alerta que, com a diminuição da produtividade, a bebida pode ficar mais cara, aumentando os custos de produção.
Atualmente, a Los Nichos produz cerca de cem mil garrafas por ano e está tentando expandir para o mercado de exportações. Munízaga acredita que o Brasil tem potencial para ser um bom mercado para o pisco chileno, devido à semelhança entre essa bebida e a cachaça.
Em 2023, as exportações do pisco chileno renderam US$ 3 milhões (R$ 14,7 milhões), de acordo com a ProChile, agência de promoção das exportações do Chile. Embora a República Tcheca, Alemanha e Estados Unidos sejam os principais compradores, o Brasil, que foi o décimo principal comprador, registrou um aumento de 15,3% nas compras em relação ao ano anterior.
Apesar dos desafios, produtores como Jorge Bertin, dono do Pisco Amauta, acreditam que a qualidade da bebida é primordial. Ele compara a produção de pisco à culinária dizendo: 'Produzir pisco é como cozinhar e temperar suas receitas. Depende qual é o seu estilo e o que você vai colocar na sua bebida para ela ter sabores e aromas'.
O governo chileno anunciou que aumentará o investimento em irrigação na área para combater a falta de água. No próximo ano, o investimento será o equivalente a R$ 110 milhões, um aumento considerável em relação aos R$ 68 milhões em 2023.
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