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Em Salvador, transporte público tira 22% do salário mínimo dos cidadãos

O último aumento no preço das tarifas de transporte público em Salvador é uma grande injustiça imposta principalmente ao povo preto, que representa já 80% da população da cidade. Espera-se que essas circunstâncias provoquem uma resposta energética.

Queridos leitores, vocês não interpretaram mal o título. Na cidade dita como a mais negra fora da África, onde mais de 80% da população é autodeclarada preta ou parda, o aumento recente das tarifas de transporte público é um grande desafio para os habitantes da cidade, afetando sobretudo o povo preto, que depende muito do transporte público.

Uma rápida análise dos dados do último Censo Demográfico (2010) mostra que as pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas estão concentradas nos setores centrais e no subúrbio de Salvador. E, infelizmente, essas são as áreas com as piores condições de moradia e acesso a infraestruturas básicas, além de estarem longe das áreas onde a maioria das oportunidades de trabalho estão localizadas.

Portanto, é lógico concluir que os mais afetados pela alta das tarifas são os habitantes dessas regiões da cidade. Como eles residem longe das áreas com maior quantidade de empregos, são forçados a recorrer ao transporte público com mais frequência para ir trabalhar, tendo que gastar mais tempo e dinheiro com o deslocamento.

Diante do novo preço de R$ 5,20 por viagem, considerando apenas o trajeto de ida e volta para o trabalho, teríamos um custo diário mínimo de R$ 10,40. Ao multiplicar isso por 26 dias úteis em um mês, chega-se a um custo mensal de R$ 270,40, o que representa 22,17% do salário mínimo líquido.

Em outras palavras, o povo preto de Salvador precisa destinar pelo menos um quinto de seus salários apenas para poder chegar ao trabalho! Eles pagam por sua entrada no Navio Negreiro Urbano da mesma forma que seus ancestrais, os quais estiveram acorrentados em navios que chegaram a Salvador, mas pagaram com suas vidas a produção da cidade e do país.

Neste cenário de desproporção, espera-se que os fatos causem indignação na população preta de Salvador. É preciso mobilização para reverter essa injustiça e garantir que não seja uma narrativa a ser repetida por mais mil anos.

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