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‘O papel do racismo editorial na manutenção das desigualdades no Brasil’; confira a análise

Escritora e antropóloga especializada em literatura infanto-juvenil com base na cultura africana, argumenta sobre a necessidade de uma maior representação negra no setor editorial

A arte de contar histórias para crianças é um convite à interação, criando um vínculo emocional por meio das palavras. Pequenos contos estão repletos de sabedoria, alertando sobre os desafios do mundo. As histórias africanas, principalmente, são ricas em sabedoria e reflexão sobre a condição humana. Cada uma delas é uma expressão autêntica de sua cultura única.n

A transição da tradição oral para a escrita possibilita a adaptação e a expansão dessas histórias, dependendo de seus contextualidades e interpretações. Contudo, é importante perceber que uma trama 'inocente' ao primeiro olhar, pode conter fortes indícios dos modelos de humanidade retratados e das nuances de estilo, que raramente são neutras. Por exemplo, ao se observar o imaginário das origens continentais, percebe-se que as associações culturais a elas ligadas nem sempre são equitativas ou equilibradas.

Nesse sentido, as histórias contadas às crianças, quando intercaladas com a realidade do racismo no Brasil, refletem os progressos e obstáculos enfrentados na busca por representatividade e diversidade na literatura infanto-juvenil.

Cabe lembrar que uma obra publicada não surge do nada. Envolve a ação de escritores, ilustradores, tradutores, editores e outros profissionais em toda a cadeia produtiva do livro. Neste cenário, é importante reiterar o impacto negativo do racismo editorial no agravamento das desigualdades.

Como autora e militante pela leitura e pelos livros, presenciei esta dinâmica e reafirmei a importância da coordenada representação racial de personagens na literatura infantil. Minha obra 'Histórias da Preta' é um exemplo desta luta contínua, sendo a personagem principal, Preta, uma representação de um feminino que ocupa o centro da narrativa.

Vinte e cinco anos após a publicação do livro, ele continua relevante na discussão das questões raciais na sociedade brasileira, mostrando que a presença negra, tanto na literatura como nos bastidores, é fundamental para a inclusão e o respeito à diversidade.

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