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Pandemia provoca regressão no desempenho escolar brasileiro, indica análise internacional

Brasil apresenta declínio no Pisa, contudo, essa queda é menos significativa do que em nações ricas; 70% dos estudantes de 15 anos têm dificuldade em aprender o básico de matemática.

A performance acadêmica dos estudantes brasileiros experimentou um declínio nas três áreas do conhecimento avaliadas pelo Pisa 2022, uma das principais referências na avaliação da qualidade da educação básica global. Após uma década sem progressos importantes, o Brasil agora mostra uma regressão no ensino. Paralelamente a isso, o decréscimo obtido foi menos expressivo do que a média observada entre os países mais ricos.

O Pisa foi divulgado na terça-feira (5) pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris. Esses são os primeiros resultados em matemática, leitura e ciências que permitem comparar o efeitos da pandemia do coronavírus — e consequente encerramento das escolas — no aprendizado dos estudantes ao redor do mundo.

Os dados coletados apontam que a crise sanitária gerou um impacto negativo global sem precedentes, com uma queda relevante na nota média dos países integrantes da OCDE nas três áreas avaliadas. Em matemática, houve uma redução de 15 pontos entre 2018 e 2022 — o equivalente a uma perda de mais de meio ano de aprendizado na disciplina.

O Pisa avaliou 690 mil estudantes de 15 anos, distribuídos em 81 países e regiões do mundo. Feita pela primeira vez no ano 2000, a prova, originalmente aplicada a cada três anos, foi adiada por um ano devido à pandemia. Assim, a edição que seria realizada em 2021 foi aplicada no último ano.

A média da OCDE em duas décadas de aplicação do Pisa nunca variou mais do que quatro pontos em matemática de um teste para outro, segundo o relatório divulgado. Isso torna os resultados de 2022 tão notáveis, pois houve um declínio dramático em muitos países e a pandemia da Covid-19 parece ser o fator principal desse fenômeno.

Mais uma vez foram os territórios e países asiáticos que obtiveram os melhores resultados na prova. Singapura, Japão e Coreia do Sul lideraram o ranking, melhorando suas médias mesmo durante a pandemia.

No Brasil, observou-se uma queda nas três áreas avaliadas, embora as perdas tenham sido menos severas que a média geral da OCDE. A disciplina mais prejudicada entre os estudantes brasileiros foi a matemática, na qual a pontuação caiu de 384 para 379, entre 2018 e 2022. Há dez anos, a média brasileira na disciplina era de 389.

Apesar do declínio nas médias, o Brasil melhorou sua classificação no ranking em comparação com outros países. Em matemática, subiu da 71ª posição para a 65ª. Contudo, ainda fica abaixo da média da OCDE, que foi de 472 pontos, e atrás de nações como Arábia Saudita, Peru, Costa Rica e Colômbia.

Os resultados mostram ainda que 70% dos estudantes brasileiros têm um desempenho em matemática abaixo do padrão definido como básico para a sua faixa etária. De acordo com a análise, esses alunos não conseguem atingir um nível de proficiência apropriado para 'participar plenamente na sociedade', ou seja, são incapazes de utilizar conceitos matemáticos para resolver problemas do dia a dia.

Em leitura, o Brasil também teve queda de desempenho, passando de 413 pontos em 2018, para 410 em 2022. Metade dos estudantes brasileiros está abaixo do nível considerado básico em leitura, o que significa que eles têm dificuldades para extrair informações explícitas de um texto. Também houve declínio na média de ciências, que passou de 404 para 403 pontos no mesmo período.

Conforme o relatório, os países que permaneceram menos tempo com as escolas fechadas durante a pandemia conseguiram manter ou melhorar os resultados educacionais no período. O Brasil figurou entre os que tiveram as aulas presenciais interrompidas por mais tempo.

Na média da OCDE, 51% dos estudantes passaram mais de três meses com as escolas fechadas nesse período. Enquanto isso, no Brasil, mais de 74% relataram ter passado mais de três meses sem aulas presenciais.

Analistas, como a presidente do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, e a presidente do Instituto Singularidades, Claudia Costin, apontam que, apesar dos avanços recentes na implementação de políticas públicas estruturantes na educação, o Brasil ainda enfrenta significativos desafios na formação de professores e na integração com a primeira infância. Chico Soares, que foi presidente do Inep, o órgão responsável por avaliações como o Enem, também afirma que o Brasil ainda precisa ensinar seus jovens a desenvolverem habilidades, pensar e entender a importância do aprendizado para suas vidas cotidianas.

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