Neste último dia 11 de dezembro, a prefeitura do Rio de Janeiro iniciou uma consulta pública para colher a opinião da população sobre a extensão da proibição de uso de dispositivos eletrônicos, como celulares, tablets, notebooks e smartwatches, que já é vigente dentro de sala de aula, para o período de recreio também. Os professores, assim como pedagogos questionaram o benefício prático desse possível aumento de restrição, bem como a notória falta de formação dos docentes para lidar com essa questão.
A prefeitura alegou ser pioneira no país a seguir recomendações especificadas pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) em seu Relatório de Monitoramento Global da Educação de 2023, lançado em julho. No entanto, de acordo com a própria Unesco, em nenhuma ocasião houve uma orientação expressa para a proibição do uso de celulares ou quaisquer outros dispositivos tecnológicos em sala de aula.
Há desde agosto em vigor, um decreto municipal no Rio de Janeiro que proíbe os alunos de utilizar aparelhos eletrônicos durante o horário escolar. De acordo com o decreto, assinado pelo prefeito Eduardo Paes, os dispositivos devem permanecer guardados dentro das mochilas durante as atividades escolares, podendo ser utilizados somente sob supervisão do professor e para finalidades de ensino.
Renan Ferreirinha, secretário municipal de educação, anunciou a consulta pública e defendeu a ampliação da medida. Ele argumentou que a escola é um ambiente para interação social e que a presença constante do celular pode isolar o aluno na sua própria tela. Ele também destacou que o vício em dispositivos digitais tem sido associado a diminuição da curiosidade, baixa autoestima e ocorrência de depressão e outros transtornos mentais.
Além disso, a Unesco reconheceu no relatório que a interação com a tecnologia de forma excessiva e não pedagógica em sala de aula pode ser prejudicial para o aprendizado dos estudantes. Contudo, também se ressalta um direito humano ao acesso à internet. Esse fato, embora controverso, aponta para uma inevitável diferença de perspectivas sobre como lidar com dispositivos digitais em sala de aula.
Segundo um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) de 2022, alunos que utilizam dispositivos digitais entre 5 e 7 horas por dia tiveram um desempenho médio inferior nos testes. No entanto, quando o uso é feito de maneira correta, a pontuação melhora.
No entanto, a pedagoga Rosemary dos Santos argumenta que a escola deve ser um local para discutir e problematizar as questões que se apresentam na sociedade, e que proibir o uso de tecnologias só afastaria a escola dessa realidade. Ela insiste que o uso excessivo de technologia não é um problema exclusivo da escola, e que a instituição deve ser um local adequado para essa discussão.
Para o professor Gilberto Santos da UnB, uma consulta pública é sempre uma ação positiva para o funcionamento democrático. No entanto, ele pontua que a eficácia do uso do celular em sala de aula depende diretamente da qualificação dos professores. Ele enfatiza que sem a devida capacitação, a tecnologia pode acabar prejudicando o ensino. Como solução, ele enfatiza a necessidade de investir na formação dos professores.
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