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A resistência eternizada em acordes: 60 anos da ditadura e do primeiro álbum de Geraldo Vandré

O notório Geraldo Vandré, autor de 'Pra não dizer que não falei das flores', manteve firme sua resistência ao regime opressor da ditadura militar. Seu primeiro álbum, lançado em 1964, é um retrato vívido dessa resistência.

No dia 8 de janeiro deste ano, marca-se uma data significativa: a ditadura militar e o primeiro álbum de Geraldo Vandré completam juntos 60 anos. O compositor e cantor, que foi duramente perseguido durante a ditadura militar instaurada em 1964, deu início ao seu manifesto político contra o regime através da sua arte. A canção que se tornaria um hino de resistência à repressão viria um pouco depois. Ao mesmo tempo, temos o registro dos atos antidemocráticos em Brasília que ocorreram no ano passado, marcando a maior crise democrática desde a ditadura.

Geraldo lançou seu primeiro álbum em 1964 sob o nome 'Geraldo Vandré', pela gravadora Audio Fidelity, conhecida por ser pioneira na produção de LPs com som estéreo no Brasil. Nascido Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, em 12 de setembro de 1935, em João Pessoa (PB), o compositor tinha 29 anos quando o disco foi lançado. Desde 1951, ele residia na cidade do Rio de Janeiro (RJ).

'Pra não dizer que não falei das flores', no entanto, foi gravada em 1968, ou seja, fora do primeiro álbum. Esta canção expressou o desejo de liberdade e a luta por um país fora dos punhos dos militares: 'Que esperar não é saber, Quem sabe faz a hora, Não espera acontecer […]'. Vandré, além de artista, formou-se em advocacia e participou ativamente do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Após quase cinco anos de exílio, Vandré retornou ao Brasil em 17 de julho de 1973. Ele tinha deixado o país em dezembro de 1968, quando o regime ditatorial intensificou-se com a imposição do AI-5.

Essa jornada trouxe tanto glória quanto desafios ao cantor e compositor, como evidenciado em seu álbum 'Geraldo Vandré'. A obra destaca o comprometimento do artista através de um repertório formado por suas próprias músicas, como 'Canção nordestina', 'Depois é só chorar', 'Fica mal com Deus', 'Pequeno concerto que virou canção' e 'Você que não vem' - algumas das quais foram lançadas como singles de 78 rotações entre 1962 e 1963.

O álbum foi relançado em CD apenas uma vez, em 2017, pela gravadora Som Livre. Ele começa com 'O menino das laranjas' (1964), uma composição de Theo de Barros (1943 – 2023), que se tornou parceiro de Vandré na criação da icônica moda de viola modernista 'Disparada' (1966). O álbum também apresenta o afro-samba 'Berimbau' (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1963) e 'Samba em prelúdio' (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1960), este último regravado por Vandré em colaboração com a cantora Ana Lúcia.

Geraldo Vandré, agora com 88 anos, foi um dos principais alvos da ditadura. Hoje, embora esteja afastado da vida pública, sua obra continua sendo a voz da resistência num país onde a memória coletiva ainda é fragilizada e que ainda sente os estragos do bolsonarismo.

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