Iniciando o dia às 5h30, um grupo de 500 mulheres armadas com machados e facões se embrenham na floresta em busca das palmeiras do coco babaçu. Esse é o cotidiano de 25 grupos, chamados de núcleos, localizados no Bico do Papagaio, uma região no norte do Tocantins.
Além do fruto que sustenta suas famílias, essas mulheres também estão em busca de maneiras de melhorar sua organização e resistir a ameaças como violência, desmatamento e agrotóxicos, além da preocupação crescente com as mudanças climáticas.
Uma das demonstrações dessa reorganização é um entreposto na cidade de São Miguel do Tocantins (TO) que começou a operar este mês. Nele, o mesocarpo do babaçu é triturado e transformado em farinha, enquanto o coco é usado para produzir óleo e azeite. O produto é então vendido em vários comércios pela própria mão de obra.
Este entreposto representa uma vitória significativa para as mulheres da Associação Regional das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Bico do Papagaio, que compartilham os lucros da venda desses produtos. Maria do Socorro Teixeira Lima, de 72 anos, coordenadora da associação, defende a importância do entreposto. Mas ela também aponta para um problema significativo: a crescente ameaça dos agrotóxicos usados pelos grandes proprietários de terras da região.
A Lei do Babaçu Livre ( Lei n° 9.159/2008), que em 2023 completou 15 anos, é comemorada pelas trabalhadoras como uma vitória, pois prevê a proteção das palmeiras em áreas do Tocantins, Piauí, Maranhão e Mato Grosso.
Para o funcionamento do entreposto, várias organizações fizeram investimentos significativos. Dentre elas estão o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas Gerais (CAA), DGM Brasil, Alternativa para a Pequena Agricultura no Tocantins (Apa-TO), Fundo Amazônia, Banco Mundial, Climate Investment Funds (CIF) e CERES Projeto Cerrado Resiliente. O investimento total do projeto ultrapassou os R$ 250 mil.
Rozeny Batista Alexandre, de 46 anos, quebradeira de coco de Axixá do Tocantins (TO), descreve a inauguração do entreposto como a concretização de um sonho. Ela também ressalta que a maioria das quebradeiras de coco não têm terra própria e dependem da permissão dos proprietários para coletar os cocos. Mas quando essa permissão é negada, ocorrem agressões, embora a lei as proteja nesta atividade.
Segundo Rozeny, as mudanças climáticas têm alterado a produção no cerrado. No entanto, ela também nota que seus grãos de babaçu ganharam popularidade entre as pessoas que seguem dietas veganas. Ela conta que é uma tradição da região as mulheres trabalharem com o babaçu enquanto os homens se concentram na agricultura.
Rozeny sonha com a aposentadoria e com a compra de uma máquina para ajudar na quebra dos cocos. Ela também revela uma ambição antiga: quando era mais jovem, desejava estudar jornalismo para poder escrever sobre sua comunidade.
Deixe um Comentário!