O suposto espião russo, Sergey Vladimirovich Cherkasov, detido no Brasil desde 2022, relatou à Polícia Federal que não se lembra de como ou quando entrou no país devido a estar sofrendo de amnésia. O único fato que Cherkasov consegue relembrar é que veio da Rússia para o Brasil de avião, segundo as informações inicialmente divulgadas pelo programa Fantástico e posteriormente confirmadas por outra fonte.
Cherkasov também afirmou em seu depoimento que obteve um documento falso, com uma identidade brasileira, de uma pessoa desconhecida em uma favela próxima a Copacabana, no Rio de Janeiro. Ele explicou ter optado por uma identidade falsa, Victor Müller Ferreira, após ser procurado por tráfico de heroína em sua terra natal e em territórios vizinhos. A Rússia está buscando a sua extradição.
As autoridades russas argumentaram que Cherkasov não foi um espião, mas sim um traficante ligado a uma associação criminosa, liderando um cidadão do Tajiquistão que fornecia heroína da região de Moscou para Lipetsk. O governo de Vladmir Putin solicita sua extradição para que seja julgado na Rússia.
Entretanto, a Polícia Federal do Brasil identificou indícios de que o suspeito contava com uma rede de apoio no país, que incluía um diplomata russo. Cherkasov e o referido agente foram indiciados pela PF por lavagem de dinheiro e associação criminosa. As investigações apontaram que o estrangeiro recebeu depósitos mensais feitos em uma agência bancária do Rio de Janeiro pelo servidor da embaixada russa.
Cherkasov foi questionado pela Polícia Federal sobre movimentações financeiras suspeitas em suas contas bancárias enquanto utilizava a identidade falsa. Em relação a 62 depósitos realizados entre 2021 e 2022, ele não soube informar a origem. Para as demais transferências, o russo argumentou que eram relacionadas à compra de um carro usado, pagamento de escritura e taxas de um imóvel no interior de São Paulo e uma dívida com uma amiga.
Ele negou à PF qualquer envolvimento com crimes de falsa identidade, falsidade ideológica, uso de documento falso, lavagem de dinheiro e espionagem. Também negou ser oficial da inteligência militar russa e afirmou que fotos em que aparece fardado foram tiradas durante celebrações da vitória russa na Segunda Guerra Mundial, eventos em que civis costumam usar esse tipo de vestimenta, de acordo com o estrangeiro.
O advogado Paulo Ferreira, que representa Cherkasov, declarou em nota que está trabalhando para comprovar a inocência de seu cliente durante o processo judicial. Ele ressaltou que, até agora, não há evidências concretas que justifiquem as acusações de lavagem de dinheiro, associação criminosa e espionagem, exceto pelo uso de documentos falsos, delito que já foi confessado por Cherkasov.
O ministro Edson Fachin, relator do processo de extradição no Supremo Tribunal Federal (STF), concordou com o pedido russo, mas condicionou a liberação do suspeito ao término da investigação que ainda está em andamento no Brasil.
A Embaixada da Rússia, até a publicação desta matéria, ainda não havia respondido os contatos efetuados pela imprensa.
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