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Jacarezinho enfrenta tempestade de balas, 20 tiroteios desde o início do ano, revela levantamento do Instituto Fogo Cruzado

De acordo com fontes ligadas à Polícia Civil, o tráfico local tem intensificado suas ações como uma forma de desafio à presença da Polícia Militar que atua na comunidade.

André (nome fictício), um morador do Jacarezinho na Zona Norte, sai para trabalhar todas as manhãs, sem saber se retornará são e salvo à sua casa. Com a crescente troca de tiros entre a Polícia Militar e o tráfico de drogas do Comando Vermelho, a tensão é constante para os moradores da região. Conforme um levantamento do Instituto Fogo Cruzado, somente nesses primeiros 24 dias do ano, houve 20 tiroteios na área, resultando em 2 mortos e 7 feridos.

André, que vive em Jacarezinho há uma década, afirma que essa é a primeira vez em que confrontos ocorrem diariamente, a qualquer hora do dia. Ele desabafa: 'O clima está tenso desde dezembro e piorou em janeiro. Eu saio de casa ao som dos tiros e, ao longo do dia, vou acompanhando os grupos da comunidade para saber como está o clima. A gente não sabe o que está acontecendo aqui, mas é tiro todo dia. Os moradores ficam em risco no meio dessa guerra, que não tem nada a ver com a gente.'

Desde o início do projeto 'Cidade Integrada', em 19 de janeiro de 2022, as forças de segurança ocupam a comunidade. De acordo com um informante da Polícia Civil, o tráfico local tem 'testado' a resistência policial, numa estratégia semelhante às adotadas nos locais onde foram instaladas as UPPs. O informante revela: 'A informação que temos é que o tráfico está testando a resistência da polícia, como aconteceu em todos os lugares que tiveram, no passado, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).'

Análises do Fogo Cruzado mostram que, no decorrer dos dois anos de implementação do projeto 'Cidade Integrada', 13 pessoas morreram e outras 18 ficaram feridas em 42 tiroteios realizados em Jacarezinho. Só neste mês de janeiro, já se registra quase metade dos confrontos acontecidos na região desde que o projeto foi implantado.

A Polícia Militar argumenta que a frequência dos confrontos é uma consequência da tentativa dos criminosos de causar instabilidade na área e manter seu domínio territorial. A corporação também ressalta que a estabilização da área pela presença policial é um processo gradativo, que tem por objetivo permitir a atuação de outros serviços públicos na região.

O governo do estado, por sua vez, relata que mais de 800 criminosos foram presos e a polícia conseguiu apreender 110 armas de fogo, 1,5 tonelada de drogas, além de recuperar 133 veículos roubados desde o início do 'Cidade Integrada'.

Porém, Maria Isabel Couto, diretora de Dados e Transparência do Fogo Cruzado, critica a falta de um plano de segurança pública eficiente no Rio de Janeiro. Ela ressalta que, 'um plano de segurança pública precisa partir de um diagnóstico dos problemas a serem enfrentados, precisa estabelecer objetivos claros no enfrentamento à criminalidade e violência, bem como indicadores para o monitoramento do cumprimento do plano.'

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