O boom do mercado argentino, desencadeado pela posse de Javier Milei como presidente em dezembro, esbarrou em uma dura realidade. O cenário agora é marcado por um declínio nos preços dos títulos, uma nova fraqueza do peso e investidores receosos diante dos leilões de dívida realizados pelo governo.
Essa mudança brusca de humor dos investidores, após um período incial de euforia, ilustra os desafios colossais que Milei tem pela frente. Ele precisa conter uma inflação que beira os 200%, evitar a instabilidade social, reconstituir as reservas do país e resgatar um programa de US$ 44 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Milei, que não tem maioria no Congresso, enfrenta ainda resistência ao seu projeto de reforma 'Ómnibus', cujo objetivo é a privatização de entidades estatais e o aumento de impostos. Além disso, um decreto desregulamentando a economia se deparou com barreiras legais.
Os preços dos títulos soberanos do país começaram a cair após um forte avanço desde a vitória de Milei em meados de novembro. Um índice de risco do país chegou ao nível mais alto em sete semanas, e um título destinado aos importadores não encontrou compradores.
A diferença entre a taxa de câmbio oficial do peso-dólar e as taxas paralelas - usadas por muitos para driblar os rigorosos controles de capital - voltou a se acentuar após uma grande desvalorização em dezembro a ter reduzido significativamente.
Apesar dos obstáculos, o banco central acumulou quase US$ 4 bilhões em reservas de moeda estrangeira desde que Milei assumiu o cargo, e o índice da bolsa local, S&P Merval, continua em alta, com a companhia de petróleo estatal YPF sendo impulsionada por conversas sobre privatização.
Enquanto isso, a atenção está voltada para a economia. A inflação é estimada em quase 30% em dezembro e ultrapassou 200% ao longo do último ano. Além disso, dois quintos da população já vivem na pobreza.
A Argentina, grande exportadora de grãos, busca reativar seu grande acordo com o FMI, com negociações em Buenos Aires na última semana para liberar a sétima revisão do programa e cerca de US$ 3,3 bilhões em recursos.
Aldo Abram, economista da Fundação Libertad y Progreso, acredita que o futuro do mercado depende do sucesso ou insucesso de Milei em suas reformas. Ele declara: 'O lado ruim é que, como está acontecendo agora, todas as notícias que possam desacelerar o progresso do governo provocarão uma queda ainda maior na demanda por pesos, deixando-nos mais próximos da hiperinflação.'
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