Trump foi julgado e condenado por estuprar Jean Carroll. O rótulo de 'estuprador' foi endossado pelo juiz Lewis Kaplan, que determinará o valor que Trump terá que pagar (que pode chegar a US$ 10 milhões em compensações) por ter difamado J. Carroll, duas vezes, depois de ser condenado pelo abuso sexual. Mesmo com a condenação, Trump continua a chamar Carroll de mentirosa e faz comentários degradantes sobre sua aparência física. A resiliência de Carroll nos mostra a força dessa mulher e reforça o princípio republicano de que ninguém está acima da lei: uma escritora contra um ex-presidente.
Outra mulher em destaque é Liz Cheney, a representante de Wyoming na Câmara de Deputados Americana de 2017 a 2023, filha do ex-vice-presidente, Dick Cheney. Cheney foi a figura de maior destaque no Comitê Especial que investigou o Ataque ao Capitólio americano em 6 de janeiro. No livro Oath and Honor (Juramento e Honra, na tradução livre), é admirável a tenacidade de Cheney na luta contra Trump e seus apoiadores, e a clareza com que ela percebe a ameaça que eles representam não apenas para o partido republicano, mas para a própria democracia Americana. Esta luta custou-lhe a própria eleição ao governo no estado de Wyoming e a tornou uma 'persona non grata' em seu próprio partido.
Parte importante da análise de Liz Cheney é que Trump não chegou ao poder sozinho, ele foi apoiado por colaboradores e seguidores leais. Entre os insurrecionistas que invadiram o Capitólio, 717 já se declararam culpados, alguns condenados a penas superiores a 20 anos, como os líderes do movimento 'Proud Boys'. O perigo maior reside entre aqueles que apoiaram a invasão e ocupam posições como senadores, deputados e advogados. Estes foram eleitos pelo voto popular e se beneficiariam imensamente de perdões presidenciais, caso Trump fosse reeleito. Estes são chamados por Cheney de hipócritas, pois sabem que as eleições não foram fraudadas, mas ainda assim perpetuam as mentiras de Trump. Cheney alerta que em um eventual segundo mandato de Trump, um governo apenas com seguidores leais seria formado, aqueles que seguem ordens sem questionar. Com o auxílio de um Senado majoritariamente republicano, Trump poderia facilmente aprovar nomes para a Procuradoria Geral da República, como tentou anteriormente com Jeffrey Clark (mas recuou após ameaças de demissão voluntária em massa e grande rejeição ao seu nome). Um segundo mandato de Trump seria a escalada de um primeiro governo populista para um segundo, autocrático.
Na manhã de 6 de janeiro, no discurso anterior à invasão ao Capitólio, Trump incitou seus apoiadores: 'Temos que eliminar as Liz Cheneys do mundo'. Liz Cheney tem andado com uma forte equipe de seguranças desde então.
Mais mulheres sob ataque de Trump: Shaye Moss e sua mãe Ruby Freeman, duas mulheres negras, que trabalharam contando votos na eleição presidencial Trump vs Biden no Estado da Geórgia e foram acusadas por Trump e Rudolph Giuliani, sem provas, de fraude no processo de contagem. O peso dessas acusações em rede nacional as transformou em alvo de ameaças e assédio. Um grupo de apoiadores de Trump apareceu na frente da casa de Ruby Freeman e o FBI teve que ser chamado para garantir sua segurança. Palavras de Freeman no tribunal: 'Não me sinto segura em nenhum lugar. Sabe o que é se tornar alvo do presidente dos EUA? O presidente dos EUA é eleito para representar todos os americanos, não para fazer de um americano seu alvo. Ainda assim, ele me fez seu alvo, sra. Ruby, dona de um pequeno negócio, mãe, uma orgulhosa cidadã norte-americana, que se levantou para ajudar nas eleições do meu distrito, no meio de uma pandemia'. Mais tarde, no julgamento, Rudolph Giuliani admitiu que as acusações eram falsas 'nós temos muitas teorias, só não temos as evidências', disse ele.
Na semana passada, Trump atacou Nikki Haley, ex-embaixadora da ONU nomeada por ele e agora competindo contra ele nas primárias pela indicação à vaga do Partido Republicano em New Hampshire. A tentativa de Trump aqui foi questionar a qualificação de Haley para ser presidente dos EUA, visto que é descendente de pais indianos, referindo-se a ela pelo seu nome de batismo: Nimarata. Haley nasceu nos EUA. Trump já havia tentado desqualificar Obama no passado, questionando sua nacionalidade, por conta do nome 'Hussein'. Agora ele usa o mesmo argumento contra alguém de seu próprio partido. O que está por trás deste discurso é o ódio a tudo o que não é considerado 'originalmente americano' dentro desta construção 'neofascista patriótica americana' chamada MAGA (Tornar a América Grande Novamente).
Donald Trump é um estuprador condenado, um 'bully', narcisista, xenófobo, misógino, fascista, racista, autoritário, mentiroso, hipócrita, covarde, racista... Ele é como uma criança mimada de 8 anos que não consegue lidar com a frustração de perder, pega a bola e sai do jogo. Um homem de 76 anos criado na cultura machista e educado sexualmente através de pornografia. As mulheres são objeto, brinquedos sexuais. Ele simplesmente as agarra pela vagina, como ele mesmo declarou, naturalizando esse tipo de comportamento como sendo de homens 'famosos' como ele. Donald Trump é a personificação do machismo estrutural que fundamenta nossa sociedade. Ele é um homem com 91 processos judiciais e que deveria passar o resto da vida na prisão. Infelizmente, ele é apontado nas pesquisas de intenção de voto como o favorito para ganhar a eleição presidencial deste ano. Como diria Hannah Arendt, todas as sociedades fascistas têm algo em comum: a banalização do mal. A sociedade está doente.
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