Júlio Lancellotti tem sofrido ataques de Rubinho Nunes, um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL). Nunes tem feito esforços para colocar o trabalho do padre, voltado para os menos afortunados na região central de São Paulo, como foco de debate nas próximas eleições municipais.
O partido de Nunes, a União, já se comprometeu a apoiar o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), em sua tentativa de reeleição. Além disso, a legenda conta com Kim Kataguiri (União-SP) como pré-candidato, que também é um dos fundadores do MBL.
Diante das insinuações de Nunes, que conseguiu apoio para instalar a CPI em fevereiro, Lancellotti decidiu relembrar as palavras de Dom Hélder Câmara, um dos fundadores da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e conhecido por sua resistência ao regime militar. Dom Hélder foi rotulado como 'demagogo' e 'comunista' logo após o golpe, quando divulgou um manifesto em favor da ação católica operária em Recife. O bispo foi censurado e proibido de dar entrevistas, tendo seu nome banido pela mídia, que na época estava alinhada aos militares.
Em entrevista concedida em 1987, após o fim da ditadura, Dom Hélder explicou as razões da hostilidade que o regime alimentava contra ele. 'Houve um tempo em que aqui, no Brasil, era assim: se um leigo, uma religiosa, um padre, um bispo trabalhava diretamente com o povo, 'meu Deus é um santo', 'é uma santa religiosa'', afirmou. E continuou: 'Mas, quando a pessoa mesmo continuando a ajudar o pobre tinha a audácia de falar em justiça... Já viu palavra mais perigosa: justiça. Falar em promoção humana. Imediatamente era chamado de comunista.', disse o bispo.
No entanto, Dom Hélder errou ao sugerir que esse tipo de perseguição havia ficado no passado. 'Hoje isto é ridículo', disse ele, sem imaginar que o mesmo discurso seria retomado por apoiadores do regime militar décadas depois.
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