O novo sistema de reconhecimento facial com uso de biometria do Allianz Parque, estádio do Palmeiras, tem sido responsável por uma série de prisões de pessoas procuradas pela Justiça e que frequentam os jogos do clube. O fenômeno tem sido registrado desde que o sistema foi implantado, a cerca de um ano. Só na partida da última quarta-feira (24), a primeira de 2024 no estádio [vitória por 3 a 2 contra a Inter de Limeira, pelo Paulistão], 48 pessoas procuradas pela Justiça foram identificadas e 39 foram presas.
Uma dessas pessoas é um traficante de drogas que tem uma história praticamente cinematográfica. Em março de 2020 ele transportava cocaína em um pequeno avião que voava próximo a Tangará da Serra, no Mato Grosso, quando pegou fogo. Conseguiu fazer um pouso de emergência e salvar a própria vida, mas não salvou nem a aeronave e nem a sua carga. Quando chegou ao local, a polícia encontrou mais de 400 kg da droga e a nave destruída, mas nada do piloto, que fugiu por um matagal próximo.
Três anos depois, monitorado ao comprar seu ingresso e localizado ao adentrar a cancha, acabou grampeado pelas autoridades. Na mesma partida também foram presas pessoas acusadas de roubos, furtos, não pagamento de pensão e até pedofilia, conforme relatado em matéria do Globo Esporte.
O monitoramento dessas pessoas procuradas é feito mediante parcerias com o projeto Muralha Paulista, da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, e também por um programa do Governo Federal assinado por meio do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Além das instâncias institucionais, da Bepass, empresa responsável pelo equipamento, e do Palmeiras, a CBF também está envolvida nas parcerias.
Quando um palmeirense compra seu ingresso pelo sistema eletrônico do clube, seus dados são enviados a uma base de dados do Ministério da Justiça e da SSP-SP. Ali é verificado se a pessoa tem um mandado de prisão em aberto por algum crime comum, se tem restrição de entrada no estádio por conta de brigas, se está viva ou morta (com o objetivo de combater fraudes) e se estão dadas como desaparecidas.
O último exemplo trata de pessoas que estão sumidas das suas famílias, que registraram boletim de ocorrência pelo desaparecimento. Desde o advento da nova tecnologia foram mais 200 pessoas encontradas no estádio do Palmeiras nessa condição, mas nem todas quiseram ser encontradas. Nesse caso elas são liberadas sem que seu paradeiro seja comunicado aos familiares. Nos outros casos a pessoa não tem essa escolha.
Logo que o torcedor procurado entra no estádio o reconhecimento facial demarca o momento exato da entrada e deixa a polícia em alerta, fornecendo inclusive imagens da pessoa procurada. Ao ser encontrada pelos agentes, a pessoa é abordada pela Polícia Militar.
O Palmeiras está na ponta de lança da nova tecnologia de reconhecimento facial, adotada no começo de 2023 para combater o forte cambismo presente nas vendas de ingressos para os jogos do clube. Para a presidente Leila Pereira, o experimento foi bem sucedido e pode abrir precedentes, dada a segurança oferecida na sua opinião, de que acabe a determinação judicial de que os clássicos paulistas sejam realizados com torcida única.
“É um serviço público muito importante que o Palmeiras está prestando para a sociedade. É um assunto relevante para o futebol, para coibir a violência, repensar a questão da torcida única”, disse a mandatária ao GE.
O reconhecimento facial para ingresso em estádios será obrigatório a partir do próximo ano por conta da Lei Geral do Esporte. Nesse contexto diversos clubes brasileiros também têm procurado a empresa que instalou o serviço no Palmeiras.
O primeiro a procurar a Bepass foi o Flamengo, em busca da implantação da tecnologia no Maracanã. Outro clube que já fechou um contrato é o Botafogo, além de Atlético-MG e Bahia que estão em fases de testes. De acordo com Ricardo Cadar, CEO da Bepass, os principais clubes das séries A e B já o procuraram.
Deixe um Comentário!