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Tributo Indígena: Espírito do Povo Yanomami Viva no Carnaval do Rio

Acadêmicos do Salgueiro, escola de samba carioca, presta homenagem ao povo Yanomami com o refrão ‘Ya temi xoa, aê, êa!' (Eu ainda estou vivo) e lembra Bruno Pereira e Dom Philips

Neste Carnaval 2024, a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, localizada no Rio de Janeiro, destaca a luta e a história do povo Yanomami. Utilizando o refrão 'Ya temi xoa, aê, êa!' (Eu ainda estou vivo, em Yanomae), a escola visa exaltar uma visão do 'Brasil cocar' e compartilhar a cultura Yanomami.

O samba-enredo da escola se intitula “Hutukara”, o nome da 'terra-floresta', conforme o glossário divulgado pelo Salgueiro próximo ao Carnaval. Hutukara também se refere ao céu ancestral que caiu na terra, formando as florestas que existem hoje nesse planeta. Essa 'terra-floresta' também é o solo sagrado de Omama, a divindade criadora para o povo Yanomami.

No refrão, repete o lema 'Ya temi xoa, aê, êa!', que em Yanomae, uma das seis línguas do grupo Yanomami, significa 'eu ainda estou vivo'. Ser 'vivo' aqui, no entanto, transcende a mera condição física e abrange também a boa saúde mental e emocional.

A escola presta essa homenagem um ano após a declaração de emergência sanitária na Terra Indígena Yanomami pelo Governo Federal. A situação era crítica, com crianças sofrendo de desnutrição grave e muitos casos de malária e infecções respiratórias agudas, caracterizando um genocídio contra o povo do território.

O samba do Salgueiro é mais do que uma simples homenagem, é também um chamado para a conscientização contínua sobre os povos indígenas. Pouco tempo atrás, o presidente Lula se reuniu com 11 ministros para lançar um novo plano para combater a invasão da Terra Indígena Yanomami que ainda prevalece.

O samba-enredo do Salgueiro foi elaborado com a contribuição de Davi Kopenawa, o principal líder dos Yanomami. Na grande final da seleção do samba, Kopenawa expressou que muitas pessoas ainda não conhecem seue povo e ele está lá representando 30 mil indígenas de Roraima e do Amazonas.

Davi Kopenawa também visitou o Salgueiro na Zona Norte do Rio para discutir sobre seu povo e falar com os moradores e membros da escola de samba. Edson Pereira, carnavalesco responsável, acredita que este desfile é uma oportunidade para todas as pessoas conhecerem a cultura Yanomami.

O samba-enredo traz à memória o assassinato do ativista indígena Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips, mortos em junho de 2022 no Vale do Javari, Amazonas, por defenderem os indígenas. O samba faz referência a eles dizendo que “antes de sua bandeira, meu vermelho deu o tom / Somos parte de quem parte, feito Bruno e Dom”. Segundo a escola, eles são lembrados por terem sido 'brancos' que realmente entenderam os povos indígenas, e apesar de seus corpos não estarem mais aqui, seus pensamentos permanecem.

O samba foi composto por Pedrinho da Flor, Marcelo Motta, Arlindinho Cruz, Renato Galante, Dudu Nobre, Leonardo Gallo, Ramon Via13 e Ralfe Ribeiro.

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