Josué da Silva de Oliveira, jovem de 19 anos, que veio de Nova Cruz, no interior do Rio Grande do Norte, para a cidade de São Paulo, é um exemplo notável da situação da educação no país. Deixou a escola por falta de interesse e de acesso a recursos adequaos. A falta de acesso à internet e a estrutura inadequada da escola para aulas online, especialmente durante a pandemia, foram fatores decisivos para sua evasão escolar.
Além disso, Josué teve que enfrentar o desafio de trabalhar desde cedo para ajudar sua família, o que acabou prejudicando seu desempenho escolar. A realidade do trabalho duro na roça e na lavoura, combinada com a falta de estímulo na escola, acabou fazendo dele mais um na estatística de adolescentes que abandonam a escola no Brasil. Segundo o Ministério da Educação, cerca de 480 mil adolescentes deixam o Ensino Médio a cada ano.
Frente a essa dolorosa realidade, o governo federal lançou recentemente um programa de incentivo chamado 'Pé de Meia'. O programa visa oferecer uma bolsa de 200 reais por mês para estudantes de baixa renda, além de uma poupança anual de 2800 reais. A ideia é que, ao final do Ensino Médio, o estudante tenha um 'pé de meia' para apoiar sua transição para o mercado de trabalho. Apesar da nobre intenção, a pergunta que muitos especialistas se fazem é se esse incentivo financeiro será suficiente para motivar os jovens a voltarem à escola e permanecerem nela.
Na opinião de Alexandre Schneider, ex-secretário de Educação de São Paulo, embora o programa 'Pé de Meia' possa ser um passo importante na direção certa, é imprescindível abordar os vários fatores que contribuem para a evasão escolar. Entre esses fatores, Schneider cita a necessidade de tornar a escola um ambiente mais acolhedor e atraente para os alunos.
Da mesma forma, o professor Daniel Cara, da Faculdade de Educação da USP, destaca a importância de investir na qualidade e nas condições de trabalho dos professores. Junto com Fernando Cássio, professor da mesma instituição, Cara expressa preocupação com a possibilidade de uma aprovação automática dos alunos, independentemente de seu aprendizado efetivo, como resultado do programa 'Pé de Meia'.
O Ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou em entrevista à CartaCapital que o 'Pé de Meia' é apenas parte de um projeto maior de reformulação da educação no Brasil. Ele ressaltou o compromisso do ministério em trabalhar com outros setores do governo para garantir um suporte abrangente para crianças e jovens em idade escolar.
Por fim, Ariel de Castro Alves, advogado e ex-presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, reitera a importância de políticas complementares ao programa 'Pé de Meia'. De acordo com Alves, a luta contra a evasão escolar deve envolver uma ampla gama de medidas, incluindo programas de assistência social e psicológica, ações culturais e esportivas, educação profissionalizante e muito mais.
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