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Alterações genéticas em vírus Oropouche podem ser a chave para compreender mortes e casos de microcefalia

Pesquisadores identificaram rearranjos genéticos no vírus da febre Oropouche, o que pode elucidar as primeiras mortes registradas e casos de microcefalia associados à doença. Agora, o desafio é estabelecer a relação entre essas mutações e os desfechos graves da doença.

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do laboratório Hermes Pardini/Grupo Fleury trouxe à tona descobertas importantes sobre o vírus Oropouche. Segundo os estudos realizados, o vírus passou por mutações, que podem lançar luz sobre as primeiras mortes ocorridas por essa doença, bem como os casos ainda em investigação de microcefalia e morte fetal.

Esses rearranjos genéticos ocorreram com mais dois micro-organismos que também circulam na Amazônia e são capazes de infectar humanos: o vírus Iquito e o vírus de Perdões (PEDV). Agora, novas pesquisas serão realizadas a fim de estabelecer ou não uma relação entre essas mutações e os casos graves ocorridos recentemente.

Para a realização da pesquisa, os cientistas avançaram em um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o qual avaliou amostras da região Norte do país em 2024 e confirmou que o vírus havia sofrido mutações. Estas descobertas recentes foram obtidas comparando essas amostras com outras coletadas em diversos estados, como Santa Catarina, Bahia e Espírito Santo, e comparadas com sequências genéticas obtidas nos estados do Amazonas, Acre e Rondônia.

Renato Santana, professor do Laboratório de Biologia Integrativa da UFMG, destacou que a pesquisa poderá confirmar se as mutações genéticas são responsáveis pelos casos mais sérios da doença. Ele também observou que as mudanças genéticas do vírus têm potencial para facilitar a propagação da febre Oropouche para outras regiões do país, além de potencialmente causar casos mais graves, semelhante ao que acontece com outros vírus.

Segundo o epidemiologista do Grupo Fleury, José Geraldo Ribeiro, os levantamentos são essenciais para entender melhor a doença. Ele ressaltou a importância de expandir a testagem para aprofundar as investigações no país. De acordo com o Ministério da Saúde, a testagem foi ampliada para todo o Brasil no ano passado e, em 2025, 380 mil testes adicionais foram contratados para o diagnóstico laboratorial da doença.

O Ministério da Saúde confirmou, na semana passada, a morte de duas mulheres da Bahia, com menos de 30 anos e sem comorbidades, que haviam sido infectadas pela febre Oropouche. Depois de apresentarem sintomas similares a um quadro de dengue grave, elas acabaram falecendo. Essa informação tem grande peso, uma vez que não havia registro na literatura científica mundial de morte por esta doença.

Em nota, o Ministério da Saúde revelou que uma morte em Santa Catarina permanecia em investigação, enquanto um óbito notificado no Maranhão por suspeita de relação com a febre Oropouche havia sido descartado. Inicialmente, os casos estavam concentrados na região Norte, sobretudo em estados como Amazonas e Rondônia, mas logo se espalharam por outros estados do país.

Além disso, foram registrados 7.236 casos de febre Oropouche em 2024 e, atualmente, estão sendo investigadas seis ocorrências de transmissão da doença de mãe para filho, resultando em episódios de morte fetal, aborto espontâneo e microcefalia. Três desses casos ocorreram em Pernambuco, um na Bahia e outro no Acre.

O vírus Oropouche foi detectado pela primeira vez em 1955, em Trinidad e Tobago, e tem causado surtos esporádicos no Brasil, Equador, Guiana Francesa, Panamá e Peru. Seus sintomas incluem febre de início súbito, dor de cabeça, rigidez articular e dores, e, em alguns casos, pode evoluir para meningite.

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