O arroto do boi pesa no aquecimento global, mas uma solução brasileira promete virar o jogo.

Desenvolvido na Amazônia, o Sistema Guaxupé reduz a emissão de metano do gado e ainda melhora a produtividade dos pastos.
A base da técnica é o amendoim forrageiro, uma leguminosa que age como pasto e fertilizante natural.
Não é o amendoim que vai para a mesa; é uma variedade forrageira, usada como capim.
Especialistas lembram que a pecuária segue como a principal fonte de gases de efeito estufa no Brasil, e que reduzir o metano do rebanho é decisivo para cortar emissões.
O modelo foi criado pela Embrapa e é apontado por Ricardo Abramovay, professor sênior da USP, como alternativa que une sustentabilidade e rentabilidade.
Além de cortar metano, o sistema ajuda no sequestro de carbono e diminui o uso de agrotóxicos ao competir com plantas invasoras.
O amendoim forrageiro fixa nitrogênio da atmosfera no solo, enriquecendo a pastagem e elevando o valor proteico da dieta do gado.
Com mais nutrição, os animais engordam mais rápido e são abatidos mais cedo, reduzindo emissões por quilo de carne produzida.
A planta também tem compostos que interferem na ruminação e reduzem a formação de metano no rúmen.
Há ainda um ganho energético: ao produzir menos metano, o animal desperdiça menos energia e rende mais no pasto.
O cultivo não serve para qualquer área: o desenvolvimento exige solos bem úmidos.
O investimento inicial costuma ser maior porque a semente é rara e a colheita ainda é manual.
O Sistema Guaxupé se apoia em quatro pilares de manejo integrados.
Primeiro, a diversificação inteligente das espécies forrageiras, escolhendo o capim certo para cada tipo de solo da fazenda.
"Sempre você tem uma área mais baixa, que é mais úmida, uma área mais alta, que é mais seca, e quando você usa diferentes tipos de capim, você diminui a chance de erro", explica o pesquisador.
A variedade também reduz o risco de uma praga ou doença destruir a pastagem inteira.
O segundo pilar é a autossuficiência em nitrogênio, graças ao amendoim forrageiro e suas bactérias fixadoras nas raízes.
O terceiro é tolerância zero com plantas daninhas, mantendo o pasto limpo e produtivo.
O quarto é o manejo correto da lotação, com alimentação garantida o ano todo e sem exceder a capacidade do pasto.
"O que causa degradação de pastagens é o excesso de gado na propriedade", diz Lambertucci.
No pasto, gramíneas e leguminosas se complementam: as primeiras crescem rápido e acumulam carbono; as segundas oferecem mais proteína.
As gramíneas crescem rápido, acumulam carbono e produzem muita massa, mas têm menor valor nutricional.
As leguminosas, por sua vez, oferecem mais proteína e ajudam a equilibrar a dieta do rebanho.
As leguminosas promovem a "adubação verde", dispensando fertilizantes químicos como a ureia e reduzindo custos e impactos.
Outra vantagem é o efeito tapete do amendoim forrageiro, que cobre o solo e dificulta a infestação de ervas daninhas.
Resultado: menos herbicida no campo e uma pecuária mais limpa.
"Ao longo do tempo, o produtor gasta menos com manutenção de pastagem com herbicida, tornando a pecuária mais limpa e menos agressiva ao meio ambiente", diz o pesquisador.
A origem do Guaxupé está em um problema real no Acre: pastos morrendo afogados, a chamada Síndrome da Morte do Braquiarão.
A pesquisa mostrou que leguminosas resistem melhor a solos úmidos, como na Amazônia, e o sistema também funciona no litoral, na Mata Atlântica e em áreas do Cerrado.

