A busca por um abdômen "perfeito" ganhou força com tendências nas redes, mas profissionais lembram: resultados rápidos e fáceis não existem. Saúde, consistência e método importam mais do que promessas virais.

"— Isso se deve à influência dos ideais estéticos promovidos pela mídia e pelas redes sociais, que associam o abdômen definido à saúde e à beleza. Essa percepção, reforçada pela pressão social e pela comparação constante, fez com que a aparência física fosse priorizada em detrimento do bem-estar integral, transformando o abdômen plano em símbolo de disciplina e atratividade, mais do que um real indicador de saúde — explicou a nutricionista Gianina López, da Sanitas Consultórios Médicos, ao Bienestar."

Além do simbolismo, a região abdominal reflete a composição corporal, especialmente o equilíbrio entre massa muscular e gordura subcutânea, apontam treinadores.

"— Por isso, é percebido como um indicador visual de boa condição física, embora não necessariamente de saúde geral — comenta."

No cuidado clínico, vale o alerta: "ter uma barriga lisa pode ser saudável, desde que mantenhamos uma boa alimentação e façamos exames médicos regulares para cuidar da nossa saúde", diz um médico, lembrando que o abdômen protege órgãos vitais e armazena parte da gordura necessária ao metabolismo.

"— Conquistar uma barriga lisa exige uma abordagem abrangente que combine um déficit calórico sustentado, treinamento de força, controle do estresse e bons hábitos — destaca Pérez."

Muitas pessoas caem na armadilha dos resultados "em sete dias" e de rotinas virais porque buscam atalhos. O problema é que boa parte desse conteúdo não tem base científica e pode ser prejudicial.

"— Vão desde desequilíbrios nutricionais e frustração emocional por não atingir os resultados prometidos até lesões por treinos inadequados ou estagnação física — afirma Pérez."

Diante disso, especialistas sugerem identificar mitos comuns nas redes para evitar comportamentos insustentáveis e expectativas irreais.

Segundo Andrea Málaga, é completamente falso acreditar que fazer 100 abdominais por dia ou treinos focados só no abdômen "irá queimar gordura localizada".

"— O trabalho abdominal fortalece os músculos, mas a perda de gordura é sistêmica, não localizada — atesta."

Centenas de repetições, além de pouco eficazes, podem causar fadiga e até lesões cervicais ou lombares quando feitas com técnica ruim.

O suor reflete perda de água, não de gordura. Cintas modeladoras só geram calor momentâneo e podem atrapalhar a respiração e a postura.

Sobre "detox" e similares, não há evidência científica de eficácia: fígado e rins fazem a desintoxicação. Esses produtos podem causar perda de água ou de massa muscular, dando falsa impressão de progresso.

Dietas muito restritivas bagunçam o equilíbrio energético e hormonal, pioram desempenho físico e mental e, a longo prazo, cobram caro.

"— A massa muscular se perde rápido, mas recuperá-la pode levar meses — diz a especialista."

O treino de core é vital, mas não é atalho para "definir a barriga". Ele tem função ampla de estabilização do tronco, do assoalho pélvico e da lombar.

"— O core não se limita aos abdominais visíveis; ele é formado por um conjunto de músculos profundos que estabilizam o tronco, o assoalho pélvico e a coluna lombar — explica Málaga."

Trabalhá-lo corretamente envolve transversos, oblíquos e inferiores, com força, respiração e técnica. Isso melhora postura, desempenho e previne lesões.

"— O core é essencial para a funcionalidade corporal, mas não é um atalho para queimar gordura nem substitui uma rotina completa — afirma."

Para resultados consistentes, Málaga recomenda HIIT combinado com exercícios de core e alimentação equilibrada, além do fortalecimento do assoalho pélvico para estabilizar a região e evitar lesões.

"— Se você mantiver essa rotina de forma consistente, poderá começar a ver resultados em cerca de três meses — atesta."

Uma estratégia eficiente é unir força e intensidade com trabalho cardiovascular para aumentar gasto energético e massa magra.

"— É claro que manter uma abordagem inteligente que combine treinamento de força multicomponente, com exercícios como levantamento terra, agachamentos ou supino, com HIIT ou trabalho cardiovascular intervalado é altamente recomendável, pois não só aumenta o gasto energético e a massa magra, como também melhora a eficiência metabólica mesmo após o treino — diz o personal trainer."

Exagerar nos treinos, usar plásticos para "suar gordura", seguir dietas extremas ou tomar suplementos sem orientação causam desidratação, perda de massa muscular e desequilíbrios metabólicos.

Exercício é crucial, mas sem uma dieta adequada é quase impossível reduzir o percentual de gordura. Proteínas ajudam na construção muscular e na saciedade; fibras melhoram a digestão, reduzem inchaço e controlam o apetite; hidratação (cerca de 2,5 litros/dia) sustenta desempenho e preserva a massa magra.

Mesmo quem treina pode sabotar resultados com erros alimentares, alertam nutricionistas.

O sono é parte essencial da recuperação física e metabólica.

"— Durante o sono profundo, as células ativam um processo chamado autofagia, por meio do qual o corpo repara os tecidos e corrige defeitos celulares. Se não dormirmos o suficiente, esses processos são interrompidos e o corpo não consegue se recuperar completamente — comenta."

Dependendo da idade e do nível de atividade, é importante dormir entre 8 e 12 horas. Dormir pouco causa fadiga e inflamação crônica; dormir bem reduz inflamação e mantém o equilíbrio hormonal.

O estresse eleva o cortisol e favorece o acúmulo de gordura abdominal.

"— Níveis elevados e persistentes de cortisol não apenas impedem a perda de gordura, como também estimulam seu armazenamento, especialmente na região abdominal, o que tem um impacto significativo na saúde cardiovascular e metabólica — alerta o clínico geral."

Gerenciar estresse, dormir, mover-se com regularidade, meditar e cultivar lazer ajudam a equilibrar o cortisol e o bem-estar.

A genética influencia onde a gordura se acumula, e o metabolismo muda com o tempo. Ainda assim, é possível melhorar a composição corporal em qualquer idade com treino estruturado e constância.

"— Em qualquer idade, é possível melhorar a composição corporal combinando treinamento estruturado com uma dieta equilibrada. A chave está na consistência, no descanso e em uma visão holística do bem-estar — diz Sergio Pérez."

Defina metas mensuráveis, alcançáveis e sustentáveis, focadas em desempenho e saúde, não em padrões irreais das redes.

Para quem se frustra sem "abdômen de revista", a lembrança é direta: processos de transformação levam tempo e variam por genética e distribuição de gordura.

"— A transformação do corpo é multifatorial e gradual. A genética e a distribuição de gordura desempenham um papel decisivo. Focar na funcionalidade, força e consistência, em vez da estética imediata, permite resultados mais duradouros e saudáveis — atesta."

Sinais de saúde vão além do espelho, ressaltam médicos.

"— Existem pessoas magras com altos níveis de gordura visceral. Mais do que a aparência do abdômen, devemos observar indicadores como pressão arterial, níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos, massa muscular e composição corporal; esses são os verdadeiros marcadores de saúde — afirma o médico."

"— É importante ter em mente que as primeiras mudanças visíveis podem aparecer entre 8 e 12 semanas, dependendo da frequência, consistência e adesão à dieta. No entanto, não podemos esquecer que resultados sustentáveis são alcançados com hábitos mantidos, e não com intervenções temporárias — conclui Sergio Pérez."