Na véspera do início do julgamento dos embargos declaratórios no Supremo Tribunal Federal (STF), Jair Bolsonaro acionou interlocutores para divulgar um quadro dramático de saúde e sustentar a estratégia jurídica para evitar a prisão no Complexo Penitenciário da Papuda.
O julgamento do chamado núcleo crucial, sob a presidência da 1ª Turma do STF, o ministro Flávio Dino, ocorrerá em sessão virtual entre sexta-feira (7) e a sexta seguinte, dia 14 de novembro. A avaliação mais provável é de negativa dos recursos, o que colocaria em marcha o cumprimento imediato da pena de 27 anos e 3 meses de prisão imposta a Bolsonaro.
Antes da sessão, interlocutores do ex-presidente procuraram colunistas para reforçar um enredo de vitimismo e de saúde fragilizada.
Repetiu-se um "script": "o ex-presidente está soluçando muito, com ânsia de vômito, meio aéreo e sozinho em casa". Ele também estaria reclamando do "abandono de quem deve muitos votos".
Enquanto esse cenário é ventilado, advogados encomendaram a uma equipe com cirurgião, clínico-geral e dermatologista um dossiê médico para tentar impedir a transferência para a Papuda e manter a prisão domiciliar.
O documento, descrito como um "dossiê anti Papuda", traça um quadro catastrófico e deve ser apresentado assim que houver determinação de transferência da mansão no condomínio Solar de Brasília para a cela já preparada no complexo prisional.
Na peça, a defesa pretende resgatar o histórico de deterioração da saúde desde a facada de 2018.
Segundo relatos, o dossiê "deve apontar riscos à saúde em razão do câncer de pele e crises de refluxo, soluço e vômito, além de pressão alta e apneia, além das complicações derivadas das sucessivas operações na região do abdômen após a facada de 2018".
Para embasar a vitimização, o senador Flávio Bolsonaro responsabilizou o ministro Alexandre de Moraes pela suposta piora do quadro do pai.
"Acho que o castigo e a tortura que o Alexandre de Moraes está submetendo o Bolsonaro tem que ter algum limite", disse.
"O mínimo que pode ser feito é fazer com que ele fique em casa, tratando da sua saúde", emendou, ao defender a manutenção da prisão domiciliar.
Em entrevistas recentes, Flávio já havia repetido essa narrativa.
"É triste, né... Eu entro em casa hoje e tu vê cara, um homem desse que é referência pra tantos milhões de brasileiros... Eu entro em casa tá lá ele, cheio de soluço, mal... Oscila dias bons e dias ruins, ali nesse soluço... O cara dorme soluçando, não sei como ele consegue fazer isso... É muito difícil.. Eu entro às vezes na casa dele e tá ali, assistindo televisão, e tu vê teu pai sentado no sofá, de perna cruzada, com uma tornozeleira eletrônica no pé carregando na tomada... Quer dizer, igual um vagabundo, e a gente sabe que ele não é", afirmou.
