Adolescentes de várias partes passaram a repetir "6-7" nas escolas e nas redes. Perguntar o significado costuma render constrangimento: não há definição clara, e o pedido de explicação já vira motivo de risos.
— Não há um significado real por trás de 6-7 — explicou Ashlyn Sumpter, de 10 anos, que mora em Indiana.
Dylan Goodman, de 16 anos, de Bucks, Pensilvânia, descreveu a frase como uma piada interna que fica mais engraçada a cada adulto que tenta e não consegue entendê-la.
— Sem ofensa aos adultos, mas acho que eles sempre querem saber o que está acontecendo — disse.
Meses depois de "6-7" surgir em salas de aula e on-line, a expressão virou tema de postagens perplexas e de tentativas de explicação, muitas relacionando-a à canção "Doot Doot (6-7)", do rapper Skrilla; no mês passado, o Dictionary.com escolheu o termo como palavra do ano, reconhecendo-o como "impossível de definir".
O mecanismo é antigo: dizer algo bobo, confundir os adultos e repetir até cansar; a diferença é que, hoje, esse tipo de código se espalha por publicações e perfis que prometem decifrar o comportamento juvenil para quem está de fora.
Essa não é a única maneira de embaralhar a leitura dos mais velhos.
Nos últimos dois anos, crianças e pré-adolescentes passaram a intercalar "skibidi" nas frases e usar inteligência artificial para inventar figuras como Ballerina Cappuccina (uma xícara de café com sapatilhas) e Tralalero Tralala (um tubarão com pernas humanas). Na Europa, grupos da Geração Z adotaram o ritual "Pudding mit Gabel", encontros em parques para comer pudim com garfos, sem motivo aparente.
Essas tendências podem soar como bobagens, mas também funcionam como uma dissimulação divertida: um esforço para serem incompreensíveis por uma geração exposta desde cedo.
— Acho que eles sabem que todo mundo está observando — disse Alma Fabiani, de 29 anos.
Desde que existe gíria adolescente, há adultos tentando decifrá-la — e jovens dispostos a explorar essa curiosidade. É praticamente um rito de passagem.
Em 1992, um "léxico da linguagem grunge" citou Megan Jasper, então com 25 anos; depois, ela revelou que havia inventado termos como "lamestain" e "swingin' on the flippity-flop".
Quando coube provocar a Geração X, os millennials já contavam com uma ferramenta que seus pais não tinham: a internet.
Clarissa Hunnicutt lembra que repetia sem parar frases como "Eu sou uma cobra", de um vídeo viral de 2010 no YouTube, para espanto dos pais.
— Eles finalmente chegaram a um ponto em que disseram: "Vamos aceitar que não temos a menor ideia do que você está falando" — disse Hunnicutt, de 32 anos.
Hoje, como mãe millennial, ela considera mais difícil acompanhar. Por ter crescido na cultura on-line, acha que deveria entender gírias como "cooked" e "rizz" que os filhos aprendem na internet; agora, porém, as origens são mais difusas.
As plataformas guiadas por algoritmos aceleraram o ciclo de criação de gírias, elevando tendências e neologismos numa velocidade cansativa para quem tenta seguir.
— Dediquei muito tempo a estudar essas palavras — disse Hunnicutt, rindo com exasperação.
Ashlyn, sua filha de 10 anos, sentou-se ao lado com um leve sorriso.
— Acho engraçado que ela esteja tentando memorizar todas essas palavras — disse.
Para pais curiosos, existe uma indústria de conteúdos que traduz tendências juvenis, com explicadores que vão de professores a responsáveis, inclusive para termos como "cultivando a aura".
O interesse aumentou porque plataformas como o TikTok deram visibilidade inédita aos hábitos dos adolescentes.
Lewis, de 38 anos, questionou se "6-7" não seria também um recado aos adultos, hoje mais intrometidos.
— (É como se dissessem) deixem-nos existir em nosso próprio espaço — disse.
Violet Paull lembra que, no ensino fundamental, se irritou ao ver no YouTube um adulto explicar um arquétipo querido, a "garota VSCO" que usa elástico de cabelo e carrega uma garrafa de água.
— Eu pensei: não é da sua conta... Você não é uma garota de 13 anos — disse ela.
É verdade que essa geração deu material de sobra ao postar a própria vida e testar identidades on-line; ainda assim, muitos sentem que já foram analisados o suficiente.
Hoje universitária, Paull, de 19 anos, aponta um tipo de "humor sem sentido" que é tão sem graça que volta a ser engraçado; um meme popular trazia o texto "aquela sensação quando a cirurgia no joelho é amanhã" sobre uma imagem azulada do Grinch.
É o tipo de publicação que a Geração Z troca com frequência: surreal, impessoal e quase incompreensível, às vezes desfocada ou de cabeça para baixo, misturando animação, um áudio do TikTok de meses atrás e um filtro antigo do Instagram na mesma peça.
Kristen Choi, de 22 anos, ficou sem palavras quando o pai pediu que explicasse a origem de Ballerina Cappuccina, a dançarina gerada por IA. Ela descreveu o humor da sua geração como "copium", junção de "cope" (lidar, enfrentar) e "opium" (ópio) — desorientador e um tanto narcótico.
A Geração Alpha, que sucede a Z, já abraça e amplifica essa atitude, observa Fabiani. Para ela, adultos tendem a tratar os jovens "como um enigma a ser desvendado" — o que pode ser tarefa inútil.
Quando pais, professores e até Savannah Guthrie, do "The Today Show", vestiram fantasias de "6-7" no Halloween recente, provavelmente já estavam atrasados em relação a uma gíria mais nova. Lexie Frensley, 37, professora no Oregon, previu o próximo "6-7".
— Eles precisam seguir em frente para a próxima novidade. Isso não vai parar.

