Em movimento que reforça suspeitas de interferência externa, o governo dos EUA, sob Donald Trump, enviou carta oficial ao estado do Rio de Janeiro oferecendo suporte irrestrito no combate ao narcotráfico, contornando os canais federais de diplomacia e segurança. O documento foi dirigido ao secretário de Segurança Pública, Victor dos Santos, braço direito do governador Cláudio Castro (PL).
A mensagem, elaborada em Washington e assinada por James Sparks, responsável pela repressão às drogas (DEA) no Departamento de Justiça dos EUA, elogia as polícias fluminenses e manifesta solidariedade pelas baixas em confrontos recentes.
"É com profundo pesar que expressamos nossas mais sinceras condolências pela trágica perda dos quatro policiais que tombaram no cumprimento do dever, durante a recente Operação Contenção no Complexo do Alemão. Sabemos que a missão de proteger a sociedade exige coragem, dedicação e sacrifício, e reconhecemos o valor e a honra desses profissionais que deram suas vidas em defesa da segurança pública. Neste momento de luto, reiteramos nosso respeito e admiração pelo trabalho incansável das forças de segurança do Estado e nos colocamos à disposição para qualquer apoio que se faça necessário. Receba, Senhor Secretário, nossos votos de força e consolo diante dessa irreparável perda. James Sparks, Drug Enforcement Administration."
A oferta de "qualquer apoio necessário" ocorre no rastro de uma operação de grande porte contra o Comando Vermelho nas favelas da Penha e do Alemão, que resultou na morte de quatro agentes de segurança e outras 117 pessoas — segundo Cláudio Castro, "todos bandidos".
Analistas de relações internacionais veem nesse gesto um padrão que ignora a hierarquia constitucional brasileira, segundo a qual a condução de assuntos externos e de segurança nacional cabe exclusivamente ao governo federal, por meio do Itamaraty e da Polícia Federal. Para especialistas, movimentos do tipo fragilizam a posição do Planalto na defesa da soberania.
Paralelamente, o governo Castro encaminhou a Washington um pedido para que o Departamento de Estado classifique o Comando Vermelho como organização narcoterrorista, ignorando o Itamaraty e a PF, únicos canais legítimos para tratar de segurança transnacional.
A iniciativa viola o princípio constitucional de que a política externa é exclusividade da União. Fontes do Itamaraty classificaram o gesto como "grave extrapolação de competências" e alertam que, se prosperar, pode resultar no bloqueio de ativos de empresas e bancos brasileiros no exterior, além de dar respaldo legal a incursões estrangeiras em favelas ou portos sob a alegação de "combate ao narcoterrorismo".
Um diplomata ouvido sob anonimato resumiu: "É uma porta aberta para tutelagem externa". Enquanto o Palácio do Planalto ainda não se manifestou oficialmente, o episódio reacende o debate sobre os limites da autonomia estadual em temas de segurança global e os riscos de uma agenda paralela para a integridade nacional.
