"Agora o presente de Natal aqui é repelente", desabafou a aposentada Joana Santana, 75 anos, ao mostrar as sacolas de produtos comprados para tentar conter as moscas que voltaram a invadir sua casa após o novo desmoronamento do lixão de Padre Bernardo.

Segundo a Secretaria do Meio Ambiente de Goiás (Semad-GO), embora as medidas adotadas desde 18 de junho tenham reduzido o risco de novos desastres, a área segue instável. O período chuvoso exige atenção redobrada, por causa do potencial de propagação de impurezas para comunidades próximas.
Dona Joana relata que a rotina nunca voltou ao normal e piorou nos últimos dias. "Quando desabou de novo, o cheiro que veio foi muito forte. Muita catinga e muita mosca mesmo. Teve um momento que eu tive que sair daqui e fui pra Águas Lindas, na casa da minha filha, porque não estava aguentando", contou. Segundo ela, a saúde foi afetada. "Estou tomando seis comprimidos de manhã e quatro à noite por conta do mau cheiro. A gente vive num lugar que não dá nem para fazer comida direito".
O policial militar aposentado Isaías Batista, 54, mora há cinco anos em frente ao lixão e diz que o novo deslizamento trouxe de volta a sensação de abandono. "Antes já era problema, os caminhões passavam vazando chorume e fedendo a cidade inteira. A mesa ficava pretinha de mosquito enquanto a gente tentava comer. Agora, com o desabamento, piorou".
Para ele, o incômodo voltou com força total. "Melhorou um pouco, mas mau o cheiro ainda continua. E depois desse último desmoronamento, os mosquitos voltaram tudo de novo. Trouxe minha mãe para nos visitar, mas com o coração envergonhado com essa situação", disse. Isaías afirmou não ter recebido atendimento no local. "Aqui na minha residência, nunca vieram".
Moradora há 28 anos, Magda Lúcia Lopes Costa, 72, descreveu a primeira queda da pilha de lixo como caótica. "Era tanta mosca que a gente juntava e colocava dentro de balde e queimava", lembrou. "Fiquei 15 dias sem poder abrir a porta. Agora melhorou, mas ainda gasto muito com veneno. Ao todo, já foram mais de R$ 500. Quem é que vai me dar retorno disso?"
De acordo com a Semad, o desmoronamento recente envolveu cerca de 3 mil toneladas de resíduos. Em 18 de junho, no primeiro desastre, 42 mil toneladas de lixo atingiram o córrego Santa Bárbara.
A pasta informou que todo o material foi removido para uma célula temporária no próprio imóvel e que não houve nova contaminação do leito d'água. As ações para reduzir o impacto ambiental seguem em andamento, com frentes emergenciais e de médio e longo prazo.
As medidas emergenciais constam do Termo de Ajuste de Conduta (TAC) de 11 de julho, incluindo a retirada do lixo do leito do córrego Santa Bárbara, a construção de uma sexta lagoa de chorume e o recobrimento do maciço de 250 mil toneladas de resíduos com terra. As ações de médio e longo prazo serão formalizadas por aditivo ao TAC, voltado à recuperação ambiental da área.
A Semad disse ainda que monitora de forma constante a qualidade da água. "Vale lembrar que o uso da água do córrego Santa Bárbara ainda está proibido por uma portaria da secretária Andréa Vulcanis) e a Ouro Verde continua a prover água potável e não potável para os moradores de comunidades próximas".
A Prefeitura de Padre Bernardo afirmou que acompanha a situação e cobrará novas medidas urgentes diante da instabilidade. Entre os pontos de atenção, destacou o esvaziamento das lagoas de chorume, consideradas de risco por técnicos municipais e ainda não tratadas pelos responsáveis pelo empreendimento.
Até o fechamento, a empresa Ouro Verde não se pronunciou sobre o novo desmoronamento nem sobre as queixas dos moradores.

