Metrô paralisa megaprojeto no ABC e ameaça investimento bilionário
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📅 19/11/2025

Metrô paralisa megaprojeto no ABC e ameaça investimento bilionário

Declaração de utilidade pública reserva 227,6 mil m² da antiga Ford, em São Bernardo, para pátio da Linha 20-Rosa; plano da Prologis de R$ 33 bilhões fica suspenso enquanto empresa e Metrô negociam.

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Ronny Teles

Ronny Teles

Combatente pela democracia

Um dos projetos logísticos mais aguardados da região metropolitana de São Paulo enfrenta novo impasse. No fim de outubro, uma declaração de utilidade pública (DUP) determinou que 227,6 mil m² do terreno que abrigava a fábrica da Ford, em São Bernardo do Campo (SP), serão usados para um pátio de manobras da nova Linha 20-Rosa do Metrô, que ligará a zona oeste da capital a Santo André.

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O terreno tem quase 1 milhão de m² e foi adquirido em 2020 pela construtora São José para a criação de um grande condomínio logístico. A proximidade com a capital e o acesso à Anchieta tornaram a área um ponto raro e estratégico para esse tipo de projeto.

"O eixo do ABC é muito próximo a São Paulo e não tem mais terreno para desenvolver", afirma Simone Santos, sócia-diretora da consultoria Binswanger Brazil. "Seria o último muito próximo da capital, o resto está afastado, com acesso complicado, tem muita área de preservação permanente (APP)".

Após quatro anos sem sair do papel e já sob os fundos BTG Pactual Logística e SJ AU Logística, a área mudou de mãos novamente. A Prologis, empresa americana de galpões, comprou o ativo no início de 2024. A empresa não confirma o valor, mas fala-se em R$ 850 milhões.

O plano da Prologis previa um condomínio de quase 450 mil m² e um parque tecnológico com data centers. O investimento estimado era de R$ 33 bilhões. Tudo está suspenso.

Em julho, surgiram sinais de que o Metrô estudava o terreno como opção para o pátio. "Ficamos sabendo através da mídia", afirma Hermano Souza, country manager da Prologis no Brasil. A partir daí, começaram reuniões entre a empresa e o Metrô para buscar uma saída.

Segundo a Prologis, a área útil do terreno é de 650 mil m². A desenvolvedora propôs destinar 166 mil m² ao pátio, o que, diz, seria viável para ambos.

A DUP, porém, prevê uma área quase 40% maior. Em nota, o Metrô afirma: "O Metrô dialogou com a atual proprietária do terreno e apresentou os argumentos técnicos que demonstram que a área oferecida não atende aos requisitos necessários, podendo inviabilizar a implantação do pátio e dificultar a construção da linha". A companhia acrescenta que o pátio vai servir "como ponto estratégico para a partida de duas tuneladoras (tatuzões)" e que "estudou exaustivamente todas as alternativas técnicas para a implantação do pátio".

O Metrô também diz que a instalação da estrutura pode evitar a desapropriação de "no mínimo, 10 mil m2 de imóveis, inclusive residenciais", além de estimar a criação de quase 10 mil empregos com a nova linha.

Para Simone Santos, conflitos desse tipo são mais comuns em habitação. É a primeira vez que atinge galpões logísticos, reflexo da aproximação desses empreendimentos das áreas urbanas para viabilizar entregas rápidas.

"O mercado de galpões está esperando ansiosamente por esse projeto e tem demanda para ele", diz a consultora, destacando que não há outro condomínio daquele porte no entorno. Segundo ela, o empreendimento poderia ser o primeiro a romper a barreira dos R$ 50 por m²; a média no Estado foi de R$ 29,80 no terceiro trimestre.

A Prologis tem 1,8 milhão de m² em galpões no país, sendo 80% em São Paulo e o restante no Rio. O projeto em São Bernardo elevaria o portfólio em cerca de 25%. Paralelamente, a empresa ergue um condomínio de 200 mil m² próximo à rodovia Raposo Tavares.

Souza diz que a decisão causou surpresa na matriz da companhia, nos Estados Unidos. Antes da compra, a Prologis checou possíveis interesses de desapropriação e não encontrou nada. "Quando falamos de investimento desse tamanho, naturalmente gera uma certa insegurança", afirma. "Temos tentado fazer com que nossos investidores não olhem para o Brasil [de forma] diferente".

O Metrô destaca que a Linha 20-Rosa deve beneficiar 1,4 milhão de pessoas. "Não somos contra o metrô", afirma Souza, que ainda vê espaço para negociação, embora reconheça que a DUP é o primeiro passo para a desapropriação.

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Publicado em 19 de novembro de 2025 às 13:05

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