A corrida por práticas sustentáveis e a complexidade da exploração de jazidas abriram espaço para startups de mineração. Em Minas Gerais, onde o mercado se concentra, o ecossistema ainda é jovem — não tem dez anos — e nasceu quando grandes mineradoras criaram programas de inovação aberta para atrair parceiros.

A Vale lançou a Vale Ventures com US$ 100 milhões para investir em startups e fomentar a descarbonização do setor, a mineração circular e a adoção de novas plataformas. Já a Anglo American foi ao mercado com a Future Smart Mining, que busca repensar as etapas da mineração com base em tecnologia, eficiência e sustentabilidade, combinando automação, digitalização e uso de dados.
De Belo Horizonte, a Beyong Mining, fundada em 2019 pelo engenheiro de minas Paulo Lopes, surgiu após vencer desafios de hubs e hoje mantém projetos em parceria direta com mineradoras. "Eu melhoro com inteligência artificial (IA) a fragmentação das rochas para aplicação de explosivos", afirma Lopes. Os algoritmos da Beyong já geraram economia anual de até 5% no consumo energético de moinhos de minério.
Também na capital mineira, a Piagam avançou a partir de 2021 ao ser selecionada pela Anglo American para resolver a dispersão de dados de recursos hídricos. A companhia decidiu investir na expansão da solução. "Estamos na fase final de aprimoramentos, e a previsão é que a solução esteja, no início de 2026, integrando processos de gestão hídrica da operação de minério de ferro da empresa", afirma o fundador Marcos Araujo.
Em São Paulo, a Veles nasceu em 2019 para integrar tecnologia de ponta e análise de informações estratégicas, "especialmente em setores complexos como o de mineração", diz o fundador Ney Maradona. Entre os projetos, está o mapeamento inteligente de áreas de risco e de passivos ambientais com dados geoespaciais e IA.
A goiana GeoInova atua desde 2010 com geoprocessamento e se transformou em empresa de tecnologia com plataforma de monitoramento por imagens de satélite. "Detecta alterações em grandes áreas, como desmatamentos, ocupações irregulares e movimentações de solo em setores como mineração", diz o CEO, Ivan Gonçalves.
Entre 2018 e 2022, a GeoInova conquistou clientes como Votorantim, Gerdau, Ferbasa, Anglo American e Imerys; depois vieram ArcelorMittal, Usiminas, Vale e CSN. "Atualmente, estamos em fase de negociação com empresas da América Latina", afirma o executivo.
A internacionalização também está nos planos de Piagam, Beyong Mining e Veles, mas, por ora, o foco segue no mercado brasileiro, onde hubs se multiplicam. Recém-lançado, o FIEMG Anjos, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, reúne 26 pessoas investidoras. "Não são empresas, por isso anjos", explica o consultor de venture capital Rodolfo Zhouri Costa e Silva. O hub foi criado para reduzir barreiras entre grandes corporações e startups.
A FIEMG Anjos é assessorada pelo escritório Freitas Ferraz Advogados, especializado em venture capital, que está otimista com as soluções para a mineração. "Em função, principalmente, dos projetos minérios estratégicos para a transição energética", diz Thiago Ricci, sócio e responsável pela área de energia e recursos naturais.

