Na mineração brasileira, as mulheres são apenas 18% da força de trabalho. Nos cargos mais altos, elas representam 20%, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). A meta do setor é chegar a 34% até 2030, com um censo amplo previsto para o próximo ano para mapear diversidade, equidade e inclusão.

Analistas veem avanços, mas admitem um longo caminho. "Estamos longe do ideal, que é a paridade 50%-50% entre os gêneros. Os países que começaram este trabalho na década de 1970, como Suécia e Noruega, estão chegando aos 40% só agora", lembra Cinthia Rodrigues, gerente de pesquisa e desenvolvimento do Ibram. "Vejo algumas dificuldades para bater as metas, mas temos que ser ambiciosos sem deixar de tocar as iniciativas do dia a dia, pois são elas que geram resultados", opina. Globalmente, o segmento é conhecido pela baixa representatividade de mulheres.
Com colaboradoras em funções como soldagem e elétrica, a Vale afirmou que "está concentrada na atração, retenção e valorização das mulheres através de ações afirmativas e oportunidades de crescimento na carreira". A empresa oferece licença-parental estendida, programas de letramento sobre gênero e investe no combate ao assédio e em canais de acolhimento, o que ajudou a alcançar 28% de empregadas mulheres em setembro.
A companhia diz ter dobrado a presença feminina em liderança nos últimos anos: em 2024, 30% dos líderes já eram mulheres, ante 14% em 2019. A mineradora assumiu compromisso de chegar a 26% dos postos acima da diretoria ocupados por elas até dezembro. No conselho, são 13 membros, três mulheres, uma delas negra.
A AngloGold Ashanti, com operações em Goiás e Minas Gerais, acelera programas para ampliar a participação feminina e de outras minorias. Em 2024, criou um comitê de diversidade, equidade e inclusão e planeja alcançar 25% de mulheres até dezembro — hoje, elas são 17,5% do quadro operacional e executivo; na lavra, 14%. Para 2026, a intenção é fixar metas mais ambiciosas para gênero, raça e pessoas com deficiência (PCDs).
"É desafiador, mas está todo mundo dedicado, atuando em várias frentes. Uma delas é nosso programa de indicação, onde as pessoas podem recomendar moradoras da região para preencher as vagas", explica Luciana Félix, diretora de cultura, talento e desenvolvimento. A executiva relata mapeamento ativo de PCDs e campanhas locais de carro de som e rádio para atrair candidatas; na retomada das operações em Nova Lima (MG), no ano passado, metade das vagas foi preenchida por mulheres.
Para Félix, que integra a Women in Mining, ainda há trabalho de quebra de vieses entre lideranças masculinas. "O aspecto positivo, por outro lado, é que, conforme progredimos, as mulheres vêm ajudando a melhorar indicadores de segurança, por exemplo. O clima organizacional melhora em todo o segmento", avalia.
Na AngloGold, as mulheres já marcam presença nas atividades subterrâneas. Ana Carla Soares, de 32 anos, é uma das quatro sondadoras que trabalham a 900 metros de profundidade nas minas de Crixás (GO), onde a empresa opera uma mina a céu aberto, uma usina metalúrgica e três minas profundas.
Elas operam uma sonda robusta que extrai fragmentos de rocha para identificar o ouro e avaliar a viabilidade econômica. Ao todo, nove colaboradoras atuam nessa função em turnos intercalados. "Antes, havia preconceito e os rapazes não estavam acostumados com mulheres no ambiente. Hoje, eles admiram nosso trabalho. Quando conto para as colegas sobre o que faço, elas ficam interessadas na mineração. A gente agarrou a oportunidade e consegue dar o exemplo." Somando a operação na Argentina, as mulheres representam 13% da equipe da América Latina.

