A Nvidia se tornou a primeira empresa a atingir valor de mercado de US$ 5 trilhões, com alta de mais de 5% nas ações e um novo pico de entusiasmo com inteligência artificial. O salto reacendeu alertas de que o setor pode estar inflado e sujeito a uma correção brusca.
Com o novo patamar, a empresa se distancia de Microsoft e Apple, avaliadas em cerca de US$ 4 trilhões. A própria Nvidia havia alcançado US$ 4 trilhões há apenas três meses. Agora, com US$ 5 trilhões, vale mais do que a maioria dos PIBs do planeta.
O rali ganhou força após o presidente dos EUA, Donald Trump, dizer que espera conversar com Xi Jinping sobre o chip Blackwell, o mais avançado da Nvidia para aplicações de IA.
Os dois líderes devem se encontrar amanhã, na Coreia do Sul, durante a Cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Asean, na sigla em inglês).
Na sequência, Jensen Huang anunciou novas parcerias e minimizou o risco de uma "bolha de IA".
A Nvidia também informou um aporte de US$ 1 bilhão na Nokia, apostando na guinada da finlandesa para soluções de redes inteligentes com IA.
No mesmo ambiente aquecido, a criadora do ChatGPT, a OpenAI, adotou uma nova estrutura com fins lucrativos, semelhante à de rivais como a Anthropic e a xAI.
Para concluir a reestruturação, a OpenAI revisou seu acordo com a Microsoft. A participação da gigante caiu de 32,5% para 27%, mas agora é avaliada em US$ 135 bilhões. A Microsoft, por sua vez, alcançou US$ 4 trilhões em valor de mercado.
O movimento de dinheiro em torno da IA também ganhou impulso com um acordo do governo dos EUA de US$ 80 bilhões para ampliar a energia nuclear usada em sistemas de IA.
Nesta semana, a Qualcomm lançou uma nova linha de chips e viu suas ações saltarem 11% em um único dia, a maior alta desde 2019.
Os avisos de uma possível "bolha de IA" se intensificaram. O Banco da Inglaterra apontou que empresas do setor podem estar sendo avaliadas acima do razoável, o que abre espaço para correção nos mercados.
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, comparou o otimismo atual ao período pré-estouro da bolha das "pontocom" e alertou que uma correção abrupta pode frear o crescimento global. Estudo do MIT indicou que 95% dos investimentos em IA não geram retorno.
Mesmo vozes influentes do setor, como Sam Altman e Jeff Bezos, admitiram que há chance de exagero nos preços, embora mantenham planos de longo prazo.
O nervosismo aumentou quando a Nvidia indicou que pode investir até US$ 100 bilhões na OpenAI para construir novos data centers. Especialistas destacam o risco de um ciclo "circular" de capital: a Nvidia financia empresas que, depois, compram seus próprios chips.
Essa dependência se repete em dezenas de startups financiadas, o que, no fim, realimenta a receita da fabricante.
Pesquisa global do Bank of America mostrou que 54% dos gestores de fundos consideram as ações ligadas à IA supervalorizadas.
Apesar disso, não há consenso de que se trata de uma bolha clássica. Parte dos analistas destaca que as grandes companhias da corrida pela IA têm fundamentos sólidos e capacidade de reinvestir em inovação.
Para William Castro Alves, o momento se assemelha mais a um superciclo de investimentos, como os que financiaram 3G, 4G e 5G. Parte do capital em data centers, chips e infraestrutura pode não gerar retorno, mas outra parte deve criar negócios transformadores.
— O mercado tem exageros. Nesse mar de investimentos, vai ter dinheiro que não vai ter retorno. É como na indústria do petróleo: às vezes se perfura um poço e só se encontra água. Perde-se dinheiro, faz parte. Bilhões aplicados em data centers e infraestrutura podem não dar o retorno esperado.
Ele diferencia o cenário atual da bolha das "pontocom": antes, muitos projetos se valorizavam apenas por ideias, sem modelo de negócio definido. Agora, gigantes como Oracle, Meta, Google e Amazon geram caixa consistente. Segundo ele, o fluxo de caixa somado das dez maiores chega a US$ 400 bilhões, enquanto a concorrência à Nvidia cresce com Qualcomm e AMD.
— Na Nasdaq, tem um grupo de ações de empresas sem receita ou sem lucro que, mesmo assim, performam tão bem quanto, ou até melhor, que as gigantes. Isso preocupa, porque pode chegar o momento em que o mercado perceba o descolamento entre expectativa e realidade. É como no desenho do Papa-Léguas, quando o Coiote corre além do penhasco e só então percebe que o chão acabou.
Para Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial, a tentação de seguir "dentro" do rali é grande. A dúvida central é se os investimentos bilionários se traduzirão em receita que justifique a valorização atual.
— O lucro das empresas de data centers não vem da infraestrutura em si, mas dos serviços que ela viabiliza, e a tradução em retorno financeiro ainda não está clara.
Ele vê semelhanças com a euforia dos anos 1990, mas ressalta diferenças: hoje, o "grosso" dos investimentos vem do mercado acionário, não de dívida. Caso ocorra uma correção, o efeito riqueza nos EUA pode ser expressivo e atingir outras economias. Por ora, a alta persiste, sinalizando que ainda há mais gente apostando no avanço.
