O desenho societário que surgiria após a compra do Banco Master pelo BRB assustou técnicos do Banco Central. A ideia central era dar um assento a Daniel Vorcaro no conselho do banco do Distrito Federal. Pelo plano, o Master ficaria com 36% das ações do seu próprio comprador, o BRB.
Fragilizado e com problemas de caixa, o Master poderia, no futuro, se tornar controlador do BRB. Já impedido de atuar como executivo após a liquidação extrajudicial do Master, Vorcaro chegou a desenhar a criação de um banco paralelo ao BRB oficial, que seria presidido por ele.
Esse braço se chamaria "BRB Participações". A estrutura serviria para captar recursos e investir em empresas privadas de qualquer natureza, inclusive naquelas em que o Master acumulava prejuízos. Segundo as apurações, Ibaneis Rocha e Celina Leão sabiam do plano.
O roteiro dessas operações está sob análise de técnicos do BC, procuradores e policiais federais desde a liquidação do Master. A investigação abriu divergências internas na autoridade monetária.
Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro, crítico dos métodos de Vorcaro e de seu sócio Augusto Lima (preso na operação Compliance Zero), conteve a área de Fiscalização do BC, que fazia vistas grossas às movimentações suspeitas desde a gestão de Roberto Campos Neto.
Com a chegada de Gabriel Galípolo à presidência do BC, as dúvidas levantadas por Renato Gomes viraram prioridade. Ministério Público e Polícia Federal entraram no caso, e Galípolo impôs sua autoridade como chefe do órgão regulador.
Diante da virada nas apurações, Celina Leão telefonou para um aliado próximo de Ibaneis Rocha. "Amigo, você sabe que ele te ouve. E nesse caso, só ouvirá você, pois é quem diz as coisas mais duras para ele: diga a ele que estamos sendo investigados no caso do BRB com o Master. Diga a ele que recolha os flaps porque ele está sendo investigado", disse.
Celina é ligada ao senador Ciro Nogueira, apontado como quem abriu as portas do GDF e do BRB para Vorcaro e Augusto Lima. Nogueira manteve elos no BC, na Caixa e no Banco do Brasil desde quando foi ministro-chefe da Casa Civil de Jair Bolsonaro.
Flávia Arruda, atual esposa de Augusto Lima, era ministra da Articulação Política e trabalhava em dupla com Nogueira. Flávia e Celina se consideram "best friends, bff" desde a bancada do PP na Câmara.
O emissário levou o alerta, mas Ibaneis rechaçou. "Não tem nada disso. O BRB pode comprar o Master, tem saúde para isso, e qualquer coisa que se disser é disputa política", disse o governador.
A Fiscalização do BC não acionou os alertas, mas a Diretoria de Organização do Sistema Financeiro achou inusual a criação do "BRB Participações". Esse banco paralelo poderia, em pouco tempo, controlar o próprio BRB — num "governo Celina", por exemplo, caso o plano de Vorcaro e Augusto Lima funcionasse.
Na busca por parceiros para evitar a quebra do Master, Vorcaro se reuniu com um escritório de "produção de dossiês e espionagem comercial" em Brasília.
Ele encomendou dossiês contra conselheiros do Itaú e do BTG. O Itaú criticava o crescimento do Master e os CDBs com rendimento de até 150% do CDI. O BTG aparecia como possível comprador, mas André Esteves fazia ressalvas a "bandas podres" e queria só a parte saudável. Os dossiês serviriam para endurecer as conversas.
Os documentos foram produzidos só em parte, porque o pagamento não ocorreu como combinado. Parte desse material pode estar agora com PF, MP e BC após as buscas e apreensões da Compliance Zero.
