No centro histórico do Recife, casarões do século 17 hoje abrigam salas modernas onde equipes desenvolvem soluções de logística, segurança da informação, games e aplicações de inteligência artificial.
É ali que funciona o Porto Digital, um dos principais polos de inovação do país: são 475 empresas, de startups a multinacionais, somando mais de 21 mil postos de trabalho.
"Cinco dos dez maiores negócios de tecnologia de informação do mundo, do ponto de vista do volume de capital humano empregado, estão hoje no Porto Digital", diz Silvio Meira, professor emérito da UFPE, que concebeu o Centro de Estudos e Sistemas Avançados de Recife (CESAR), e foi um dos criadores do Porto Digital que completa 25 anos.
Gigantes como Accenture, Deloitte, NTT Data (japonesa) e Capgemini (francesa) têm endereço no quadrilátero do tamanho de 42 campos de futebol, no centro da capital pernambucana.
O engenheiro elétrico Eduardo Peixoto lembra como era escolher o campo tecnológico em Pernambuco no fim dos anos 1990: "Quando eu me formei não tinha nada. Então a fuga de talento era gigante. Eu mesmo cumpri o check list. Primeiro fui para São Paulo, depois Genebra", diz.
Ele voltou ao Recife em 2002, quando o projeto começava a sair do papel. Desde 2022, Peixoto está à frente do CESAR.
"O objetivo era criar essa economia para reter e trazer de volta a galera que tinha fugido daqui, vazando para São Paulo, para China, Nova York, para onde quiser. Se tinha uma chance de dar certo eu tinha que ajudar".
Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, resume o momento do ecossistema: "Hoje já tem mais de 100 projetos de inovação, educação que a gente toca aqui, explica Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, enquanto caminha pelas ruas do centro de Recife, checando se está tudo certo para no festival de tecnologia da Porto Digital, o Rec'N'Play, que termina neste sábado (18)."
Na formação de talentos, ele afirma: "A gente tem aqui 4,5 mil alunos em três universidades. São cursos mais rápidos, com uma residência nas empresas, onde os alunos podem já se aproximar das demandas de mercado", explica Lucena. Em 2024, ele diz que o Recife formou 1,4 mil pessoas na área. "Para você ter uma ideia do que isso significa na tecnologia, São Paulo forma 2 mil", compara.
Para se instalar no quadrilátero de 30 hectares do Recife Antigo, as empresas recebem incentivo fiscal: a prefeitura abre mão de 60% do ISS. Em vez de alíquota de 5%, pagam 2%.
Peixoto defende ajustes com foco em educação: "Eles vêm e pegam os talentos que já tem aqui. Por que não tem uma pequena contrapartida? Pega um pedacinho, 0,5%, desse negócio e reinveste em educação?", questiona, Peixoto. "Até para poder manter o pool de pessoas que estão entrando no mercado de trabalho que vai beneficiar você [as empresas] também. Quase todo incentivo público para inovação, ele tem uma contrapartida. Então, eu acho que é isso que falta nessa política pública".
Em 2024, as empresas "embarcadas" faturaram R$ 6,2 bilhões. Mesmo com a renúncia, o Porto Digital já é a terceira maior fonte de receita da capital. A prefeitura não informou o valor total da renúncia fiscal.
O Rec'n'Play começou na quarta-feira (15) na região do Porto Digital, com atividades em 83 espaços de 30 prédios, sete palcos e 37 estandes de rua, as chamadas ativações. São mais de 700 atividades gratuitas e a previsão é superar 90 mil participantes. O festival é realizado pela Ampla Comunicação, Porto Digital e Sebrae Pernambuco.
