Em um encontro com veteranos, Vladimir Putin quebrou o clima ameno ao anunciar o teste do torpedo nuclear Poseidon, apresentado como capaz de alcançar o dobro da potência da maior bomba atômica já simulada. "Não existe nada igual", disse o presidente russo. Dias depois, ele exibiu o submarino que abrigaria o artefato e promoveu um ensaio com um míssil de cruzeiro de autonomia considerada infinita, numa estratégia para testar limites do Ocidente e adiar o fim da guerra na Ucrânia.
A movimentação irritou Donald Trump. A bordo do Air Force One, antes de um aguardado encontro com Xi Jinping, o presidente americano afirmou ter ordenado a retomada de testes com armas nucleares, prática abandonada desde os anos 1990. Para analistas, a escalada dificulta a costura de um cessar-fogo. "Cada movimento de provocação russa serve a um propósito claro: pôr à prova a habilidade de americanos e europeus de coordenarem uma resposta conjunta, o que está longe de ocorrer", avaliou Christo Kostov, especialista em estudos de guerra.
Nesse ambiente, foi cancelada uma cúpula que reuniria Trump e Putin em Budapeste após uma ligação entre o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o chanceler russo, Sergei Lavrov. A Casa Branca evitou comentários, e pesou a avaliação de que as posições são tão divergentes que uma reunião renderia "palavras ao vento". Envolvido no debate sobre enviar mísseis Tomahawk à Ucrânia, Trump disse: "Putin deveria terminar com a guerra, que era para ter durado uma semana, em vez de testar mísseis".
Sem apostar na diplomacia por ora, Washington anunciou sanções às duas maiores petrolíferas russas. A medida amplia a pressão sobre uma economia que viu a inflação chegar a 8% em setembro, o dobro da meta do Banco Central. Ainda assim, Moscou vem amortecendo impactos ao ampliar exportações para China e Índia e manter parte das vendas de commodities à Europa. Para economistas, a conta não fecha no longo prazo. "Ele paga trabalhadores e soldados com rublos que seu Banco Central pode imprimir na quantidade que bem quiser ou que seu serviço de impostos arrecada das empresas, algo não sustentável no longo prazo", disse Vladislav Inozemtsev.
Do lado ucraniano, a guerra cobra um preço alto: até o fim do ano, o custo acumulado deve chegar a 360 bilhões de dólares, acima do PIB do país. A União Europeia se divide sobre um novo empréstimo a Kiev, garantido por ativos russos congelados. Como os recursos estão sob custódia da Bélgica, contrária à liberação, a iniciativa segue paralisada.
Aproveitando brechas, a Rússia enviou cerca de 170 000 soldados para a região de Donetsk e conseguiu entrar em Pokrovsk, cidade estratégica. Com o inverno às portas e mais civis sob risco, cresce a urgência por negociações que busquem uma paz real, não apenas trégua temporária.

