Seis em cada dez mulheres que trabalham em tecnologia avaliam que a igualdade de gênero no setor regrediu no último ano. Mesmo com 81% se sentindo prontas para liderar equipes, 56% apontam que o cenário geopolítico recente, com o fim de metas e programas de diversidade nos Estados Unidos, está afetando a presença feminina em uma área já dominada por homens.
Os dados são da sexta edição do relatório "State of Gender", produzido pelo programa de inclusão "Women in Tech" do Web Summit. Os resultados foram divulgados poucas semanas antes da edição de Lisboa, que ocorre de 10 a 13 de novembro.
"Os clube dos meninos estão de volta com toda a força", disse uma das entrevistadas.
A mudança é brusca em relação a 2024: no ano passado, 51% das mulheres acreditavam que a igualdade estava melhorando; agora, 60% dizem que o movimento piorou.
As entrevistadas citam a redução de iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) e a instabilidade global como fatores que empurraram a pauta de gênero para segundo plano. O "clima de guerra" teria limitado o financiamento de projetos de capacitação de mulheres e reduzido recursos voltados à diversidade nas empresas.
Segundo a pesquisa, 61% discordam de que a indústria de tecnologia esteja tomando medidas apropriadas para combater a desigualdade de gênero.
Apesar de maior confiança, os desafios diários seguem: preconceito, baixa representatividade em cargos de liderança e dificuldade para equilibrar vida pessoal e profissional continuam no topo da lista.
Quase metade das entrevistadas (49%) relatou ter sofrido sexismo ou algum tipo de preconceito nos últimos 12 meses. Em 2024 e 2023, os percentuais foram de 51% e 54%. O machismo aparece de forma implícita: interrupções em reuniões, ideias ignoradas ou reexplicadas por colegas homens e dúvidas recorrentes sobre expertise técnica.
Mais de oito em cada dez mulheres disseram sentir que precisam se esforçar mais do que os colegas para provar seu valor, o maior índice dos últimos três anos.
O dilema entre carreira e família também cresceu: 56,5% relatam ter de escolher entre uma coisa e outra, alta superior a sete pontos percentuais em relação ao ano passado.
"Se você não estiver disposta a ficar até muito tarde no escritório todos os dias porque tem família, não terá as mesmas chances de promoção", disse uma entrevista, sob anonimato.
A tecnologia, porém, é vista como aliada: 77% usam ferramentas de inteligência artificial diariamente, e três em cada quatro acreditam que a IA e a automação podem promover mais inclusão, criatividade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Há cautela: uma em cada quatro teme que a tecnologia reforce vieses de gênero já existentes. A pesquisa ouviu 671 participantes da comunidade global "Women in Tech", com respondentes da Europa, Américas, Ásia e África. As idades variam de 18 a 74 anos, com maioria entre 35 e 44.

