O tornado que atingiu o Centro-Sul do Paraná na sexta-feira (7), classificado como EF3 em uma escala que vai até 5, devastou cidades, deixou seis mortos e destruiu 90% do município de Rio Bonito do Iguaçu. A avaliação de especialistas indica que o episódio pode estar entre os mais fortes já registrados no país.
A análise é de Daniel Henrique Cândido, doutor em geografia pela Unicamp e pesquisador que estuda a ocorrência de tornados no Brasil. Ele ressalta que o país tem histórico expressivo desses eventos e ocupa posição de destaque no cenário mundial.
"Continua sendo a segunda área de risco mais intenso de ocorrência de tornados no mundo. Ela só fica atrás do chamado corredor dos tornados nos Estados Unidos."
Em 2012, Cândido catalogou 205 tornados ocorridos entre 1990 e 2011. Entre eles está o registro de maio de 1992, em Almirante Tamandaré (PR), que também alcançou EF3 e deixou seis mortos.
Para o pesquisador, o tornado de sexta-feira pode figurar entre os 10 piores já documentados no país. A lista de episódios graves inclui, ainda, o de Itu (SP), em 1991, que deixou 15 mortos, e o de Nova Laranjeiras (PR), em 1997, com quatro vítimas.
Os tornados são fenômenos atmosféricos menores em escala, mas de altíssima intensidade. Costumam se formar a partir de tempestades severas, em áreas com grande variação de vento em diferentes altitudes, e podem causar danos significativos em curtos trajetos.
Segundo o pesquisador, o alto número de episódios no Brasil está ligado às condições geográficas e climáticas da América do Sul. "O motivo desse valor tão elevado na ocorrência de eventos está relacionado exatamente com a situação geográfica do país."
Essa combinação torna as regiões Sul e Sudeste mais propensas aos tornados, como mostra o histórico reunido ao longo de décadas de registros.
Cândido explica que a interação entre aquecimento do ar, condensação da umidade e ventos em altitude pode gerar tornados e outros fenômenos destrutivos, como microexplosões atmosféricas, observadas no interior de São Paulo em 2016.
Com base nas imagens e nos danos observados no Paraná, ele avalia que o tornado foi excepcionalmente forte. Em sua tese, o pesquisador propôs a Escala Brasileira de Ventos (Ebrav), de 0 a 7, adaptada às especificidades do país.
Na Ebrav, o primeiro nível corresponde a ventos de até 50 km/h, sem potencial de danos, e o último classifica ventos acima de 260 km/h, capazes de provocar destruição generalizada. Pelo critério proposto, o desastre no Paraná se enquadraria no nível 6.
Embora menos frequentes que na América do Norte, os tornados no Brasil têm gravidade relevante. Para Cândido, os efeitos diferem por fatores como densidade populacional, padrões construtivos e cultura de prevenção. "Nos Estados Unidos, as casas são predominantemente de madeira ou estruturas leves, o que as torna mais frágeis ao vento, mas mais fáceis de reconstruir." Já no Brasil, segundo ele, "as habitações são construídas em material mais pesado, como concreto e tijolo. Elas resistem mais, mas quando desabam, o impacto é muito maior."
O pesquisador afirma que o país ainda está distante da cultura de prevenção vista nos EUA. "Lá, é comum ligar a TV e ver as condições do tempo logo pela manhã. As pessoas crescem aprendendo a acompanhar e confiar na meteorologia." Ele cita dois fatores para essa distância: educação e infraestrutura. "Eles têm uma rede de radares muito mais adensada que a brasileira, com cobertura praticamente total e dados acessíveis ao público. No Brasil, a burocracia para acessar informações meteorológicas muitas vezes dificulta a criação dessa cultura."

