Poucos dias depois de mudar de posição, Donald Trump sancionou uma lei que exige a divulgação dos arquivos do caso Jeffrey Epstein. A medida foi aprovada na véspera pelo Congresso, mas as exceções previstas no texto podem manter parte dos documentos sob sigilo e adiar sua publicação.
Epstein morreu na prisão em 2019, quando respondia por abuso sexual de menores e chefiar uma rede de tráfico de pessoas. A pressão por transparência cresceu com novas trocas de mensagens reveladas nas últimas semanas.
O texto legal permite reter registros considerados confidenciais, que identifiquem vítimas, que incluam imagens de abuso sexual infantil ou que possam prejudicar investigações federais em andamento.
Segundo o Departamento de Justiça, os arquivos já retidos continham imagens de vítimas, vídeos ilegais de abuso sexual infantil baixados da internet e materiais protegidos por ordens judiciais.
Trump também exigiu que o Departamento de Justiça abrisse uma investigação sobre democratas citados em e-mails entregues pela família de Epstein. A secretária de Justiça Pam Bondi afirmou que o procedimento já começou, o que pode oferecer mais um motivo para manter documentos em sigilo.
Em publicação no Truth Social, Trump mirou os democratas e disse que a comoção era um desvio de atenção. "Os democratas têm usado a questão Epstein, que os afeta muito mais do que o Partido Republicano, para tentar desviar a atenção de nossas INCRÍVEIS VITÓRIAS", escreveu.
A investigação sobre Epstein, financista que circulou por círculos de elite na Flórida e em Nova York por décadas, deixou um rastro de escândalos ligados ao abuso de menores. O sigilo dos arquivos, que citam nominalmente vítimas, é visto como obstáculo para esclarecer quem foram colaboradores ou clientes. Apenas Ghislaine Maxwell cumpre pena hoje.
A nova onda de pressão começou quando parlamentares democratas divulgaram e-mails em que Epstein citava diretamente Trump. Em um deles, o bilionário afirmou que o republicano "sabia das meninas" e que passou horas com uma delas em uma de suas propriedades. Republicanos reagiram liberando cerca de 20 mil páginas de documentos, incluindo mensagens com Larry Summers e registros que apontam a presença do ex-presidente Bill Clinton no círculo de Epstein nas décadas de 1990 e 2000.
Vítimas enviaram carta a congressistas defendendo a liberação dos arquivos e argumentando que não se trata de disputa partidária. Enquanto isso, Trump classificava os pedidos de divulgação como farsa de democratas e atuava nos bastidores para travar a votação.
Ele enviou recados de que apoiar a medida seria um "ato hostil", telefonou a parlamentares e despachou Pam Bondi e Kash Patel para tentar reverter votos em reunião na Sala de Situação.
Durante a campanha, Trump prometeu revelar tudo o que ainda não era público, insinuando o envolvimento de adversários. As entregas abaixo do prometido alimentaram teorias conspiratórias populares no movimento MAGA e frustraram parte de sua base.
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Em julho, após uma rodada de divulgações sem grandes novidades, o Departamento de Justiça sob Trump afirmou em memorando que a revisão dos arquivos "não revelou nenhuma 'lista de clientes' incriminatória" e que não encontrou "evidências críveis" de chantagem contra figuras proeminentes, provocando mal-estar entre aliados.
A guinada de Trump para apoiar a votação ocorreu após alertas de republicanos de que a pressão do eleitorado tornaria o voto inevitável. Segundo relato ouvido em anonimato por um jornal americano, ele reconheceu que era melhor liberar a bancada para votar.

Aliados também advertiram que a resistência poderia soar como tentativa de esconder algo. O reposicionamento veio nas redes: "Os republicanos da Câmara deveriam votar pela divulgação dos arquivos de Epstein, porque não temos nada a esconder", escreveu. "O Comitê de Supervisão da Câmara pode ter tudo o que lhe é legalmente permitido, NÃO ME IMPORTO!"
Pela lei, o Departamento de Justiça deve disponibilizar registros não classificados sobre a detenção e a morte de Epstein, listas de voos de aeronaves usadas por ele, nomes citados em conexão com crimes, acordos civis e de colaboração, entidades ligadas à sua rede e comunicações internas sobre decisões de investigar ou acusar. Também terá de informar ao Congresso, em prazo curto, o que foi divulgado e retido, as redações feitas e o embasamento legal de cada decisão.


