Trump boicota G20 na África do Sul e isola os EUA
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📅 19/11/2025

Trump boicota G20 na África do Sul e isola os EUA

A cúpula focada em dívida, clima e desigualdade acontece sem a presença de Donald Trump e fecha o ciclo de lideranças do Sul Global antes da transferência da presidência aos Estados Unidos.

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Ronny Teles

Ronny Teles

Combatente pela democracia

A África do Sul sediará no fim de semana a reunião de cúpula do G20 com o objetivo de arrancar compromissos para aliviar a dívida de países em desenvolvimento e combater desigualdades, em meio à ausência notável do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

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O retorno de Trump à Casa Branca foi um duro golpe para a primeira presidência africana do G20. Os 19 países do grupo, que também inclui a União Europeia e a União Africana, somam 85% do PIB mundial e quase dois terços da população do planeta.

Desde que voltou ao poder, o presidente americano demonstra desconfiança com o multilateralismo — do qual o G20 é um instrumento — e adotou medidas como a imposição de tarifas.

Além de questionar a ordem internacional, Trump atacou o governo do presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, acusado pela Casa Branca de inação diante de uma suposta perseguição à minoria africâner, descendente de colonos europeus.

A África do Sul, atingida por tarifas mais altas aplicadas à África Subsaariana (30%), tentou recompor pontes com Washington.

Ramaphosa, porém, decidiu tocar a agenda com ou sem a maior potência econômica do mundo.

A presidência sul-africana do G20, com o tema "Solidariedade, igualdade, sustentabilidade", prioriza o alívio da dívida dos países em desenvolvimento, o financiamento da adaptação climática e o combate às desigualdades econômicas.

Entre 2021 e 2023, o continente africano gastou 70 dólares por pessoa apenas com juros da dívida — mais do que em educação (63 dólares) ou saúde (44 dólares) por pessoa, segundo a ONU.

Pretória quer impulsionar a criação de um painel internacional sobre desigualdades, nos moldes do IPCC, recomendação central de um relatório coordenado pelo Nobel de Economia Joseph Stiglitz.

"Se o painel for aprovado, representará um verdadeiro sucesso não apenas para Pretória, mas também para milhões de pessoas do Sul Global cujas vozes frequentemente não são levadas em consideração nestes fóruns econômicos elitistas", afirma Tendai Mbanje, pesquisador do Centro de Direitos Humanos da Universidade de Pretória.

Resta saber se haverá consenso para uma declaração final conjunta. Segundo várias fontes dos trabalhos preparatórios, representantes da Argentina adotaram postura de obstrução.

O presidente Javier Milei, alinhado diplomaticamente a Trump, não irá à cúpula e enviará o chanceler Pablo Quirno.

Sem os Estados Unidos, a China deve retomar a defesa do multilateralismo. O primeiro-ministro Li Qiang viajará a Joanesburgo.

"A globalização econômica e o surgimento de um mundo multipolar são irreversíveis", disse Li Qiang em outubro, ao pedir que o mundo evite o retorno à "lei da selva" comercial.

A Rússia será representada por Maxim Oreshkin, conselheiro econômico de Vladimir Putin, na ausência do chanceler Sergey Lavrov.

O encontro ocorrerá sábado e domingo em um centro de conferências na capital econômica sul-africana.

A cúpula encerra o ciclo de presidências do G20 do chamado Sul Global, após Indonésia (2022), Índia (2023) e Brasil (2024).

Depois da reunião, a África do Sul passará o bastão da presidência rotativa aos Estados Unidos.

O governo Trump pretende focar sua presidência do G20 em temas de cooperação econômica.

A próxima cúpula acontecerá em dezembro de 2026, em Miami, em um campo de golfe da família Trump.

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Publicado em 19 de novembro de 2025 às 12:44

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