Trump deixa Bolsonaro para trás e busca Lula contra a China
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📅 28/10/2025

Trump deixa Bolsonaro para trás e busca Lula contra a China

Em Kuala Lumpur, Trump apertou a mão de Lula, prometeu que "o acordo comercial virá" e sinalizou uma guinada pragmática: o Brasil volta ao centro do tabuleiro e Bolsonaro fica escanteado.

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Ronny Teles

Ronny Teles

Combatente pela democracia

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Sem discursos longos, o gesto falou mais alto: entre segurar Bolsonaro no colo e disputar espaço com a China na América do Sul, Trump optou pela segunda alternativa. Foi um movimento calculado, de quem trata a diplomacia como xadrez, não como palanque.

Ao apertar a mão de Lula em Kuala Lumpur e prometer que "o acordo comercial virá", Trump sepultou a ilusão de que a velha parceria ideológica com o ex-capitão ainda tinha valor prático. O recado foi claro: abre-se um novo capítulo entre Brasil e Estados Unidos, guiado por interesses concretos.

Na arena internacional, emotividade não paga conta. Trump pode ser temperamental, mas olhou para o mapa, não para tweets de um aliado decadente. A China avança na região com dinheiro, infraestrutura, acordos e diplomacia ativa em portos, ferrovias, telecomunicações e energia.

O Brasil de Lula é o único com peso suficiente para equilibrar essa influência. Trump sabe que conter Pequim sem falar com Brasília é impossível. Já Bolsonaro virou ruído incômodo, lembrança de uma fase em que geopolítica se confundia com lives.

As imagens correram o mundo: Trump sorridente, Lula confiante e clima de reconciliação pragmática. Enquanto isso, em Brasília, o bolsonarismo digeria o silêncio: o ex-presidente não foi citado nem lembrado. Foi apagado.

Houve um tempo em que Bolsonaro se gabava de ser "amigo do Trump". Hoje, quem recebe parabéns é Lula, em um discreto "happy birthday" que simboliza a mudança de rota. O mundo real cobra resultado.

Trump não precisa mais de Bolsonaro — precisa conter a China. E para isso, fala com quem tem poder, não com quem perdeu. A política externa não recompensa lealdades sentimentais; recompensa entregas.

Em Washington, a conta é simples: se o Brasil continuar orbitando economicamente em torno de Pequim, os EUA perdem seu principal eixo de influência no continente. A reaproximação com Lula é estratégica e inevitável.

Mesmo eleito com retórica anti-China, Trump sabe que isolamento não funciona. O contrapeso se faz com alianças, concessões e pragmatismo econômico. Na América do Sul, a alavanca para isso é o Brasil.

Nos bastidores, fala-se em construir uma narrativa de "parceria equilibrada" para reconquistar terreno. Os EUA veem com desconforto a influência chinesa em commodities, energia limpa e infraestrutura. Um Brasil hostil seria péssimo; um Brasil amistoso, mesmo liderado por Lula, pode ser a ponte. E, se for preciso esquecer Bolsonaro, assim será.

Bolsonaro, preso ao próprio discurso, não percebeu que Trump nunca teve amigos — apenas interesses. Enquanto serviu de barreira retórica contra a esquerda, teve utilidade. Ao perder o poder, perdeu valor. Não houve traição; houve manual.

Em paralelo, o ex-presidente tenta conter danos no front jurídico: apresentou nesta segunda-feira (27) recurso ao STF contra a condenação a 27 anos e três meses de prisão.

No entorno político, a pressão também não arrefece: admite em tese a existência de plano em andamento, mas afirma que teria recuado por vontade própria, enquanto aliados como Valdemar ficaram impedidos de conversar com ele por mais de um ano durante as investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe. No xadrez atual, Lula ocupa o centro do tabuleiro.

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Publicado em 28 de outubro de 2025 às 15:56

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