Ultraprocessados elevam risco de 12 doenças e são mais difíceis de combater que o tabaco
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📅 20/11/2025

Ultraprocessados elevam risco de 12 doenças e são mais difíceis de combater que o tabaco

Série na The Lancet coordenada por Carlos Monteiro, da USP, reúne 43 especialistas e aponta evidências robustas do impacto dos ultraprocessados na saúde, pedindo ação urgente de governos.

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Ronny Teles

Ronny Teles

Combatente pela democracia

Produtos ultraprocessados estão tomando o lugar de padrões alimentares tradicionais, piorando a qualidade da dieta e elevando o risco de múltiplas doenças crônicas no mundo.

Uma série especial publicada pela revista The Lancet reuniu três artigos assinados por 43 pesquisadores internacionais para avaliar o fenômeno e propor respostas de política pública.

A coordenação é do epidemiologista brasileiro Carlos Monteiro, da USP, criador do termo ultraprocessado em 2009 e autor da classificação Nova, hoje referência em diretrizes nutricionais.

Monteiro fundou o Nupens na USP e foi listado em 2025 entre as 50 pessoas mais influentes do mundo por um jornal dos Estados Unidos, além de aparecer como o segundo brasileiro com maior impacto em decisões globais em relatório técnico.

O conjunto das evidências analisadas é amplo: foram 104 estudos de longo prazo, dos quais 92 encontraram aumento de risco associado ao consumo de ultraprocessados.

As associações foram significativas para 12 condições de saúde, incluindo obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, depressão e mortalidade precoce por todas as causas.

Segundo a análise, a indústria explora vulnerabilidades biológicas humanas, mimetizando sinais de alimentos proteicos com aditivos e gerando formulações baratas à base de carboidratos e gorduras.

Exemplos incluem o uso de realçadores de sabor, como glutamato monossódico, para reproduzir gostos de carne ou frango em produtos de baixo valor nutritivo.

Também pesam a presença frequente de cafeína, o marketing agressivo, a queda de preços e a oferta em todos os ambientes, fatores que amplificam o apelo e o consumo.

Os dados indicam relação linear: quanto maior a participação de ultraprocessados na dieta, maior o risco de adoecimento, sem um patamar claro considerado seguro.

Algumas estimativas sugerem 15 por cento das calorias como teto, mas os autores apontam pouca evidência sólida para definir um limite confiável.

No Brasil, pouco mais de 20 por cento da dieta vem de ultraprocessados, enquanto em países como os Estados Unidos esse número já supera 50 por cento.

Reduzir o consumo é mais complexo do que a luta contra o tabaco, porque exige acesso a alternativas não ultraprocessadas que sejam viáveis no preço e no cotidiano das famílias.

Além disso, o consumo desses produtos forma um padrão alimentar: quem toma refrigerante tende a frequentar fast food e escolher lanches, sorvetes e outras opções semelhantes.

Estudos mostram que brasileiros com mais renda consomem mais ultraprocessados, mas o avanço é mais rápido entre os mais pobres, à medida que os custos de produção caem.

Esse movimento aumenta desigualdades em saúde; medidas como a isenção da cesta básica podem ajudar a reequilibrar escolhas, embora ainda de forma limitada.

As políticas atuais, em muitos países, seguem focadas só em nutrientes como sódio, açúcar e gordura saturada, sem considerar o nível de processamento como determinante de risco.

Com isso, a indústria substitui açúcar por adoçantes, gordura saturada por amidos modificados e sal por aditivos, escapando de alertas de rotulagem nutriente a nutriente.

Há propostas para fechar esse cerco: ampliar a rotulagem frontal para itens com adoçantes artificiais e adotar tributação específica sobre ultraprocessados, como já iniciou a Colômbia.

O avanço dos ultraprocessados desloca alimentos in natura e minimamente processados, em grande parte impulsionado pela força de corporações globais do setor.

Os autores defendem que já existe base científica suficiente para políticas públicas ambiciosas; na avaliação apresentada, os ultraprocessados são causa básica da epidemia de doenças crônicas.

Críticas à classificação reconhecem que nem todo produto é igualmente nocivo, mas o padrão de ultraprocessamento leva trocas piores dentro de cada categoria, sustentando a orientação de evitar esses itens.

Casos de difícil enquadramento, como alguns pães, são mais um desafio para a pesquisa do que para o consumidor, e não alteraram os resultados gerais encontrados até aqui.

Diante da urgência, os especialistas pedem ação imediata, traçando paralelo com o tabaco: mesmo com perguntas em aberto, o efeito nocivo já é claro e políticas precisam avançar agora.

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Publicado em 20 de novembro de 2025 às 11:40

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