Vereadores de SP priorizam esporte e deixam educação no fim da fila
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📅 09/11/2025

Vereadores de SP priorizam esporte e deixam educação no fim da fila

Na 1ª metade de 2025, 35% das emendas foram para esporte; educação recebeu 0,3% e habitação nada.

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Ronny Teles

Ronny Teles

Combatente pela democracia

Os vereadores de São Paulo concentraram 35% das emendas parlamentares em projetos ligados ao esporte na 1ª metade de 2025, enquanto a educação ficou com 0,3% e a habitação não recebeu nada.

As emendas são um instrumento do orçamento para que parlamentares destinem verbas a suas bases e a políticas consideradas relevantes, em Câmaras Municipais, Assembleias e no Congresso.

No "tipo de objeto" das emendas, a categoria que mais recebeu foi "parcerias e projetos sociais".

Essas parcerias apoiam torneios e eventos públicos, e os projetos sociais são iniciativas de ONGs e entidades sem fins lucrativos, muitas vezes voltadas ao esporte, ao trabalho com jovens e à inclusão comunitária.

Duas emendas do vereador George Hato (MDB) bancaram edições do Jungle Fight, evento de MMA realizado em maio e junho, somando R$ 873 mil.

O vereador Thammy Miranda (PSD) destinou R$ 350 mil para a 2ª edição do projeto favela game Heliópolis, com oficina de games de 3 meses para jovens da comunidade.

Em 2º lugar ficaram "eventos e contratações artísticas", que incluem apresentações culturais e manifestações religiosas, como a "Marcha para Jesus", que em 2025 recebeu emendas para shows.

Nesse recorte, o vereador Jair Tatto (PT) direcionou R$ 914 mil para 6 apresentações musicais na 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária do MST, no Parque da Água Branca.

As "obras" vieram na sequência, com intervenções urbanas, reformas de praças e melhorias em equipamentos públicos.

Um exemplo é a emenda do vereador Silvinho Leite (União Brasil), de R$ 1,5 milhão à Subprefeitura de Pirituba/Jaraguá para "intervenção, urbanização e melhoria de bairros".

Em "aquisição de equipamentos e mobiliário", a vereadora Rute Costa (PL) destinou R$ 100 mil para cada uma destas instituições: Hospital de Cidade Tiradentes, Hospital de Ermelino, Hospital do Rim, Instituto Suel Abujamra e IBCC Oncologia.

O esporte virou alvo preferencial por dar visibilidade imediata e fixar o nome do político na comunidade.

Reformas de "campinhos", torneios de várzea e pequenas obras em quadras e centros esportivos servem de vitrine nas bases, com retorno simbólico e político direto.

Um caso é a Arena Fivenet, no Jardim São Luís, zona leste de São Paulo. O campo de terra virou gramado sintético em 2019 e desde então recebe melhorias com emendas.

Em 2021, o vereador Senival Moura (PT) destinou R$ 250 mil para "readequação e ampliação do espaço e da sala na Arena Fivenet". Em 2025, foram mais R$ 500 mil para substituir o gramado sintético e trocar o alambrado.

Em vídeo publicado pela Arena Fivenet, Senival aparece ao lado do deputado estadual Jorge do Carmo (PT) e do deputado federal Jilmar Tatto (PT) anunciando o início das obras em novembro.

Segundo o professor Marco Antonio Teixeira, da FGV, essa alocação segue a lógica do "varejo político".

"Essas emendas são emendas de varejo mesmo. Educação e habitação envolvem volumes maiores de investimento, muitas vezes já assegurados por lei. O esporte, ao contrário, permite que o parlamentar aplique valores menores e tenha um efeito eleitoral mais imediato", afirma o cientista político.

Para ele, os resultados são visíveis e mobilizam a população. "É o campeonato de base da região, o campinho reinaugurado, a quadra que passou por manutenção. Tudo isso gera um espírito de comunidade", diz. "Do ponto de vista de chegar rápido com dinheiro ao público, essas emendas são muito mais fáceis de executar. O campeonato de futebol, por exemplo, reúne muita gente em torno do evento."

Ele reforça o potencial eleitoral: "É dinheiro público sendo entregue de forma privada. Ele conecta o vereador diretamente com o eleitor. É um investimento barato que te conecta com muita gente."

A Secretaria Municipal de Educação recebeu apenas uma emenda: a vereadora Sonaira Fernandes (PL) destinou recursos a 12 CEIs para "aquisição de equipamentos permanentes e manutenção em geral das unidades".

"Eu e o meu gabinete estamos à disposição para atender mais diretores de escolas e entender o que os seus professores e alunos mais precisam", afirmou a vereadora.

Sonaira também assinou a 2ª maior emenda para um único projeto, na área esportiva: R$ 1,5 milhão para a "16ª edição do Bjjstars – Em Chamas – GP Open Class e Lutas Casadas", realizada em 26 de julho.

Marcelo Messias (MDB), líder do partido do prefeito Ricardo Nunes na Câmara, dividiu verbas entre diferentes bolhas culturais: R$ 199 mil para o "show jornada sertaneja", R$ 250 mil para o "projeto afromix capoeira" e R$ 100 mil para o "festival de apresentações artísticas dj jacó, paulinho fds e mc fio no bairro belenzinho".

Luna Zarattini (PT-SP), líder do maior partido de oposição ao prefeito, com 8 dos 55 vereadores, destinou uma emenda no 1º semestre: R$ 700 mil para "realização de eventos na cidade de São Paulo" via Secretaria Municipal de Turismo.

Ela disse que a preferência do PT por cultura e esporte, em vez de educação, decorre do limite imposto à bancada de oposição, o que inviabiliza grandes obras. "A bancada do PT tem a prioridade política de destinar esses recursos de emendas para intervenções pontuais nas periferias da cidade e em áreas de maior vulnerabilidade social, com pequenas obras como reforma de praças, escadões e calçadas, instalação de gramados de campo de futebol e apoio a projetos sociais, que são cruciais para a articulação comunitária", diz a vereadora.

O Psol, com 6 dos 55 vereadores, foi o único partido a não executar emendas no período. Segundo Silvia Ferraro (Psol), da Bancada Feminista, a Casa Civil não encaminha o PMO (Pedido de Movimentação Orçamentária), por "perseguição política".

"A negativa da Prefeitura em liberar as emendas do Psol é antidemocrática e significa perseguição política. Quem acaba prejudicado é o povo, que deixa que ser atendido em demandas importantes da saúde, educação e cultura e outros serviços essenciais", diz Ferraro.

O retrato das emendas no semestre expõe a escolha por ações de rápida entrega e forte apelo local, enquanto áreas estruturantes como educação e habitação seguem com baixa prioridade no orçamento dos gabinetes.

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Publicado em 9 de novembro de 2025 às 13:16

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