Wassef avança em Atibaia; opositores veem "prefeito de fato"
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📅 07/11/2025

Wassef avança em Atibaia; opositores veem "prefeito de fato"

Advogado do clã Bolsonaro expande influência no PL regional, impulsiona Daniel Martini e se envolve em reuniões na prefeitura; nega interferência e acumula desafetos.

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Ronny Teles

Ronny Teles

Combatente pela democracia

Advogado do clã Bolsonaro, Frederick Wassef tornou-se um dos nomes mais influentes da política de Atibaia (SP) após atuar como principal cabo eleitoral do atual prefeito, Daniel Martini (PL).

Wassef filiou Martini ao PL, comandou a campanha em 2024, apresentou nomes para o secretariado e participou de reunião na prefeitura sem ter cargo. Enquanto o prefeito o chama de "deputado sem mandato", opositores o apontam como o "prefeito de fato", o que ele nega.

Em Atibaia, onde mantém escritório, foi encontrado e preso em junho de 2020 o pivô do caso da "rachadinha" de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz. O próprio Flávio participou de ato de campanha de Martini e teve presença anunciada por Wassef na inauguração de uma sede regional do PL nesta sexta-feira (7).

Desde junho, Wassef preside o PL Regional de Atibaia e Bragança Paulista. Para a inauguração, anunciou as presenças de Valdemar Costa Neto e do deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), líder da sigla na Câmara.

Wassef atribui sua projeção à visibilidade da "relação de competência, lealdade e proteção de Bolsonaro" e diz: "Usei esse poder para eleger um prefeito honesto e combater a máfia de Atibaia."

Natural de São Paulo e frequentador da cidade desde a infância, ele declarou ao TSE possuir três imóveis em Atibaia. No imóvel que abrigou Queiroz, recebeu questionamentos sobre sua influência na prefeitura.

Ele recusou entrevistas e enviou resposta por escrito. Em podcast local, disse sobre a visita da imprensa: "Hoje a imprensa bateu na porta da minha casa, do meu escritório de advocacia no Jardim dos Pinheiros. E chegou ao meu conhecimento que foi ele quem mandou".

A referência era ao advogado Edevaldo de Oliveira, ex-braço direito de Wassef, com quem rompeu em junho. Edevaldo afirmou ter deixado a presidência do PL em Atibaia por considerar que o partido vinha sendo usado para interesses pessoais.

Registros do TSE indicam que Edevaldo presidiu o diretório municipal entre julho de 2024 e fevereiro de 2025. Wassef disse que pediu ao então aliado para comandar o partido durante a eleição enquanto ele tocava a campanha de Martini e agora o acusa de difamá-lo na cidade.

Ex-policial rodoviário federal, Edevaldo advogou para Queiroz e para Agostinho Moraes da Silva, outro ex-assessor de Flávio no caso da "rachadinha". É apontado por ter ajudado a esconder Queiroz na casa de Wassef, o que nega. Seu Instagram tem fotos com o ex-assessor.

Aliados veem o evento desta sexta como sinal verde do PL para lançar Wassef a deputado federal no ano que vem. A nova sede é uma casa ampla em área nobre de Atibaia.

Entre os trunfos citados por correligionários está a aposta em Martini. Em 2020, ele foi candidato pela Rede. Quatro anos depois, elegeu-se pelo PL com ajuda de Wassef, que levou Flávio e o senador Marcos Pontes (PL-SP) ao palanque.

Se no governo Bolsonaro Wassef já era tratado como "ministro informal", em Atibaia esse papel foi adaptado, segundo relatos, para a realidade local sob a gestão Martini.

A trajetória na cidade também gerou rompimentos. Além de Edevaldo, ex-aliados acusam Wassef de dar a palavra final em decisões da prefeitura.

"Essa afirmação é completamente mentirosa e beira o desrespeito", afirmou Martini em nota.

Wassef e a gestão negam indicações para o secretariado. Ainda assim, o secretário de Turismo, Alexander Rossa, é cliente do advogado desde julho de 2024.

Nascido na Rússia e morando no Brasil desde 2018, Alexander é alvo do MPF por supostos crimes de fraude e ocultação de patrimônio. Já foi preso na Rússia e no Brasil e é representado por Wassef no STJ. A defesa atribui a continuidade do caso a erro do sistema, dizendo que a própria Procuradoria já pediu o fim do processo.

A prefeitura afirmou: "Todas as nomeações e contratações do secretariado municipal seguem critérios rigorosos de conformidade legal, incluindo a apresentação e análise de ampla documentação comprobatória, como certidões negativas nas diversas esferas do Poder Judiciário e órgãos de controle exigidas pela Lei Orgânica do Município".

Wassef nega participação em reuniões na prefeitura, contrariando relatos internos de trânsito livre. "Manda alguém mostrar foto e filmagem minha frequentando a prefeitura ou qualquer lugar. Eu quase não paro em Atibaia", disse no podcast.

A gestão Martini admitiu que Wassef esteve em reunião em fevereiro com a cúpula da Polícia Civil regional. "Durante a reunião, que tratou de pautas de interesse público, o Sr. Wassef participou de discussão sobre a possibilidade da doação de um terreno da Prefeitura ao Governo do Estado de São Paulo para a implantação de uma nova delegacia em Atibaia", justificou.

Registros mostram que, em janeiro, ele participou de outro encontro na prefeitura para ouvir Victor Murad Filho, secretário de Transformação Digital do Espírito Santo. O motivo da presença não foi explicado.

Em resposta via LAI, a gestão afirmou que "não possui registro de acesso em suas dependências". O secretário de Governo, Cláudio Peixoto da Silva, disse: "Dessa maneira não há registros de controle nominal de entrada na Prefeitura Municipal de nenhum munícipe, nem mesmo do Sr. Frederick Wassef".

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Publicado em 7 de novembro de 2025 às 12:57

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