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Disputa Artística: Hitler, discóbolo e um problema para Roma e Munique

A estátua 'Lancellotti Discobolus' tornou-se um dilema para Itália e Alemanha depois de ter sido adquirida por Adolf Hitler em 1938

A figura clássica do 'Lancellotti Discobolus', uma estátua de mármore que Adolf Hitler comprou em 1938, tem causado um conflito artístico entre a Itália e a Alemanha. A escultura, representando um homem musculoso prestes a jogar um disco, é uma réplica de uma obra originalmente esculpida em bronze em torno de 450 a.C. Hitler escolheu a escultura como símbolo do ideal da pureza ariana.

Antes de chegar às mãos de Hitler, a obra estava no Palazzo Massimo Lancellotti, em Roma. Teoricamente, a família Lancellotti foi pressionada por Benito Mussolini, líder fascista italiano, a vender a estátua ao líder nazista, um ato de pacificação entre os líderes. A venda da estátua foi fechada por 16 milhões de libras, equivalentes a R$ 100 milhões de hoje.

O 'Discobolus' foi apresentado ao público na Gliptoteca de Munique, um museu especializado em esculturas, como um 'presente' de Hitler à população. No entanto, com o fim da Segunda Guerra Mundial e a queda do regime nazista, estátua e Alemanha se separaram por mais de 915 quilômetros.

A obra fez parte da lista de itens que os nazistas haviam roubado e que deveriam ser devolvidos a seus donos. Apesar de a decisão ter sido tomada há mais de 50 anos, ainda é fonte de controvérsias na Itália atual.

Recentemente, a disputa pela estátua ganhou destaque após uma troca de cartas entre Stéphan Verger, diretor do Museu Nacional Romano, e Florian S. Knauß, diretor da Gliptoteca de Munique, divulgada pelo jornal italiano Corriere della Serra. Verger solicitou a devolução da base de mármore do 'Discobolus' que está em posse da Alemanha, mas Knauß não só negou o pedido como também manifestou sua indignação. Ele reivindica o direito legal da Alemanha à estátua, argumentando que a obra foi adquirida legalmente pelo estado alemão e que a repatriação para a Itália foi uma violação da lei, segundo parecer jurídico do estado da Bavária e do museu.

Diante desse impasse, Gennaro Sangiugliano, ministro da Cultura da Itália, afirmou categoricamente que a estátua só será levada de volta à Alemanha 'por cima do meu cadáver'. Ele classificou a situação como 'inaceitável' e argumentou que a obra foi comprada de maneira fraudulenta pelos nazistas, sendo uma parte integral do patrimônio nacional italiano. Ele mencionou ainda sua forte crença na melhoria da cooperação entre a Alemanha e a Itália, especialmente no âmbito cultural.

Existem opiniões divergentes sobre a questão, com aqueles que acreditam que a devolução da obra à Alemanha seria uma forma de apagar o passado sombrio do país marcado pelo Holocausto, que resultou na morte brutal de cerca de 6 milhões de judeus. Enquanto isso, a Itália está confiante de que vencerá essa disputa pela obra.

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