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Meninas afegãs são torturadas por suposto uso incorreto do véu religioso

Grupos talibãs acusam as vítimas de serem influenciadas por organizações estrangeiras, a fim de promover o uso inadequado do hijab. Ativistas veem a situação como um agravamento na repressão dos direitos femininos.

O Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício no Afeganistão abusou de jovens garotas afegãs sob a acusação de estarem usando o hijab, um véu islâmico, de maneira imprópria. Elas foram taxadas de 'descrentes' pelo regime talibã que comanda o país.

Vários ambientes, incluindo salas de aula, mercados e centros comerciais na capital Cabul foram palcos da repressão a estas jovens.

Dezenas de meninas e mulheres sofreram agressões e detenções em Cabul, acusadas pela polícia moral de usarem o hijab de forma inadequada e promover o seu uso distorcido. O The Guardian, veículo britânico, revelou o testemunho anônimo de uma adolescente de 16 anos que foi presa em conjunto com outras colegas de escola, durante uma aula de inglês. Elas foram transferidas para a detenção da polícia e as que resistiram ao ato foram violentamente agredidas.

A jovem depoente relatou que foi inúmeras vezes agredida nos pés e pernas quando tentou argumentar com os captores. Seu pai também foi vítima de violência física por ser acusado de criar 'garotas imorais'.

'Eu estava vestida de maneira modesta, até mesmo com uma máscara facial, uma precaução que tomei desde a chegada do poder talibã', disse a jovem. Porém, ela foi punida mesmo se apresentando de maneira adequada e ficou detida por dois dias e duas noites.

Ao retornar para casa, a jovem testemunhou as condições físicas do seu pai, resultantes da agressão sofrida, passando a viver com o medo de perdê-lo. Após o ocorrido, a menina não conseguiu voltar a estudar, temendo o repetimento da situação.

O porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, insistiu na versão de que as vítimas femininas foram influenciadas por grupos estrangeiros a adotar um comportamento impróprio com relação ao hijab. A seu ver, as detenções 'não são uma prática habitual'.

Os ativistas de direitos das mulheres no Afeganistão denunciam que essa crescente repressão é mais uma estratégia do grupo talibã para restringir ainda mais os direitos femininos e excluí-las da vida pública.

'A desculpa deles é para impor mais restrições às mulheres', disse Sanam Kabiri, membro do grupo de direitos Unidade e Solidariedade das Mulheres Afegãs, enfatizando o intuito dos talibãs de impedir as mulheres de saírem públicamente, mesmo quando precisam.

Fereshta Abbasi, integrante da organização Human Rights Watch, com sede em Nova York, chamou atenção para as detenções de mulheres no Afeganistão como mais uma evidência da repressão aos seus direitos básicos.

Em maio de 2022, um decreto emitido pelo grupo talibã determinou que as mulheres usem a burca de maneira integral, cobrindo todo corpo e deixando apenas os olhos à mostra.

'Depois de privar as mulheres dos seus direitos, agora estão prendendo-as por causa do hijab', disse Kabiri, ‘Os talibãs pretendem tirar as mulheres da vida pública e tornar a vida delas um inferno’.

Richard Bennett, relator especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos no Afeganistão, se manifestou na rede social X, considerando as prisões 'infelizmente significam mais restrições à liberdade de expressão e subtraem outros direitos'. Ele pede a libertação imediata das mulheres capturadas.

Zabihullah Mujahid, porta-voz dos talibãs, rejeitou as declarações à ONU, reiterando que ‘nenhuma prisão arbitrária foi feita e que sua ações são legais e baseadas na Sharia - sistema jurídico do Irã’.

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