Só 15 cidades do Rio estão livres de facções; CV domina 62,8%
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📅 10/11/2025

Só 15 cidades do Rio estão livres de facções; CV domina 62,8%

Relatório de inteligência da PM mapeia 1.648 áreas: Comando Vermelho atua em 70 de 92 municípios, expande controle econômico e pressiona bairros do Rio e do interior.

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Ronny Teles

Ronny Teles

Combatente pela democracia

Um relatório do setor de inteligência da Polícia Militar mapeou 1.648 locais sob influência de grupos criminosos no Estado do Rio e aponta a presença do Comando Vermelho (CV) em 70 dos 92 municípios. Apenas 15 cidades não têm domínio consolidado de facção. Segundo o documento, 62,8% dos territórios mapeados estão com o CV, 20,6% com o Terceiro Comando Puro (TCP), 13,9% com milícias e 2,6% com a ADA.

Como há disputas frequentes, os dados são atualizados só quando a ocupação se consolida. Um exemplo é a Carobinha, em Campo Grande, ocupada na semana passada e ainda fora da estatística consolidada, de acordo com a Secretaria de Polícia Militar.

Para o secretário de Polícia Civil do Rio, Felipe Curi, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) acabaram estimulando a dispersão do tráfico pelo estado e o CV alterou seu modelo de negócios. "O que aconteceu após as UPPs foi o espalhamento dos traficantes por todo o estado. Paralelamente, o CV entendeu que a droga não é mais o negócio mais rentável. Hoje, o tráfico representa de 10% a 15% do faturamento da facção. Eles passaram a explorar economicamente os territórios, replicando atividades típicas das milícias. A prioridade passou a ser gerar receita com gás, luz, água, internet, transporte alternativo e extorsão, impondo o terror à população local."

O CV também se expandiu nacionalmente e já está presente em 25 dos 27 estados. Mesmo vendo o combate como um desafio, a cúpula da PM avalia que é possível retomar áreas com inteligência e estratégia. "O CV é a primeira facção do Brasil e influenciou praticamente todas as facções no território nacional."

Segundo Curi, o foco em domínio territorial e econômico aumentou a receita do grupo nos últimos quatro anos. "Com essa mudança de tática, voltada ao domínio territorial e econômico, é natural que o poderio financeiro da facção tenha crescido de forma expressiva. Não à toa, eles investiram fortemente na tomada de áreas na região da Grande Jacarepaguá, na Zona Oeste. Eles perceberam o potencial econômico da região", completou.

O avanço recente inclui, além do Morro dos Macacos (consolidação após confrontos), tomadas do TCP em Campinho e Fubá (Cascadura), Morro do Divino (Praça Seca), Gogó da Ema (Belford Roxo), Maria Joaquina (Búzios) e Fazenda da Barra 2 (Resende). Na Zona Sudoeste, áreas antes dominadas por milícia passaram a ser do CV: Gardênia Azul (Jacarepaguá), Cesar Maia (Vargem Pequena), Coroado (Vargem Pequena), Fontela (Vargem Pequena) e Jardim Bangu.

O impacto no cotidiano é direto. Uma moradora do entorno dos Macacos, em Vila Isabel, descreve a rotina sob tiros e perdas materiais: "No Dia das Mães, eu e meus filhos tivemos que almoçar dentro do meu quarto, único lugar seguro quando há tiroteio. Na garagem do meu prédio, sempre há balas no chão. Penso em sair todos os dias daqui. Mas meu apartamento é próprio. Como vou vender? Quem vai querer comprar? Nossos apartamentos não valem nada hoje."

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Na região do Itanhangá, moradores relatam tentativa da facção de dominar serviços fora das favelas. "Eles estão tentando vender gás de cozinha deles nos condomínios que ficam foras das favelas, inclusive atuam para impedir que outros façam esse serviço. O mesmo com a questão de internet. Teve até uma vez, meses atrás, que um batalhão da PM precisou dar cobertura para a companhia atuar" — contou ela.

Em Ramos, vizinho ao Morro do Adeus — última área do Alemão que passou do TCP para o CV —, um morador diz ter aderido à internet do tráfico por falta de opção. "O meu prédio ainda tem uma opção de internet legalizada, mas a maioria não tem. Hoje, tenho duas "internets". Instalei a deles, porque a legalizada ficou quase duas semanas inoperante. Até pensei que não iria voltar mais" — contou.

O avanço chega ao interior. Em Paulo de Frontin (Centro-Sul Fluminense), a PM identificou influência do CV em alguns pontos, mas a cidade segue entre as poucas sem controle consolidado. Com pouco mais de 7 mil habitantes, o município faz divisa com áreas onde a facção já está estruturada.

Moradores relatam sinais de pressão. "Nós percebemos que começaram a aparecer pessoas diferentes na cidade, sempre se instalando em bairros mais afastados do centro, como Morro Azul, Sossego e Sacra Família. Depois disso, alguns locais passaram a ser conhecidos como áreas de "difícil acesso" e ter registros de furtos, venda de drogas e uso de armas. Isso não existia aqui."

Outro morador reforça que não há domínio territorial, apesar de tentativas. "Eles ainda não ocupam nenhuma região, mas já tentaram se fixar. Como o município é pequeno e parte dos policiais reside nas proximidades, eles conseguem agir rapidamente para evitar que elementos de fora se estabeleçam aqui. Eles até atuam na venda de drogas, mas ainda não há domínio territorial. Não exploram gás nem internet."

Para Daniel Hirata, coordenador do Geni/UFF, o Leste Fluminense é hoje a região com maior influência do CV no entorno das comunidades. Em 2023, a facção voltou a ampliar sua presença como não se via desde 2017 e, segundo o Mapa dos Grupos Armados de 2024 (com base em 2023), já dominava 51,9% dos territórios controlados por criminosos na Região Metropolitana, tendência que seguiu em 2024.

"O Comando Vermelho, ao contrário das milícias, tem um crescimento que é contínuo ao longo de todo o período", diz Hirata, que evita previsões sobre a Zona Oeste, majoritariamente sob milícias. "Os dois grupos são poderosos. E difícil prever o futuro, não são favas contadas o CV controlar a Zona Oeste. As milícias se instalaram lá há muito tempo, muitas vezes desde o início de alguns bairros. Não é simples para o CV tomar a Zona Oeste. No caso da Zona Sudoeste, foi construído pouco a pouco um corredor que juntava vários morros sob o controle do CV. Existe uma logística necessária para fazer isso tudo."

Para conter o avanço, os Complexos do Alemão e da Penha foram alvo de uma megaoperação que mobilizou cerca de 2,5 mil policiais e contou com promotores do Gaeco. Houve o cumprimento de 51 mandados de prisão, uso de drones, dois helicópteros, 32 blindados terrestres e 12 veículos de demolição. Ao longo do dia, 81 pessoas foram presas e 42 fuzis apreendidos. Houve ao menos cinco mortos, além de dois policiais civis mortos e outros agentes feridos.

O choque na rotina foi imediato: 45 unidades municipais de ensino fecharam as portas, vias como a Estrada Grajaú-Jacarepaguá foram bloqueadas por barricadas, e a volta para casa foi antecipada horas antes do habitual.

Entre as 15 cidades sem domínio consolidado de grupos criminosos, o levantamento cita: São José do Vale do Rio Preto (Serrana), Casimiro de Abreu (Região dos Lagos), Silva Jardim (Região dos Lagos), Rio das Flores (Centro-Sul Fluminense), Cardoso Moreira (Norte Fluminense) e São Sebastião do Alto (Serrana).

Autoridades reforçam que o cenário muda com disputas locais e requer atualização constante dos mapas para orientar ações de inteligência e retomada dos territórios.

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Publicado em 10 de novembro de 2025 às 10:21

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