A Alemanha confirmou um aporte de € 1 bilhão no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), mecanismo proposto pelo Brasil para remunerar países que preservam suas florestas. Segundo relatos no evento, 47 países se manifestaram favoráveis à adesão ao fundo.

"Tivemos a alegria de ver a Alemanha anunciar o seu aporte. Esse aporte está na ordem de 1 bilhão de euros para o TFFF, graças a todo o esforço que vem sendo feito e em demonstração de que, de fato, esse instrumento de financiamento global é muito bem desenhado, muito bem estruturado e começa a dar as respostas esperadas", disse Marina em Belém ao final desta tarde.
Na Cúpula dos Líderes, a Pré-COP entre 6 e 7 de novembro, o país já tinha sinalizado apoio ao fundo, mas ainda não havia confirmado o valor.
Na época, o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, declarou que o país pretendia fazer uma contribuição "considerável".
"Se a Alemanha diz que é considerável, será considerável", completou o chanceler, repetindo a expressão três vezes em um coletiva de imprensa.
Nesta semana, Merz também ganhou destaque após comparar o Brasil com a Alemanha e dizer que a comitiva do seu país ficou contente de deixar Belém, onde está acontecendo a COP30. Um porta-voz do governo alemão afirmou que ele não vai se desculpar pela fala.
Além da Alemanha, o TFFF já reúne compromissos de Brasil (US$ 1 bi), Noruega (US$ 3 bi), Indonésia (US$ 1 bi) e França (US$ 500 mi).
"Nós estamos convencidos que o TFFF é uma excelente ideia", afirmou o ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Carsten Schneider, ao presidente Lula em Belém. Schneider está na capital paraense para representar o seu país na COP30.
O TFFF é considerado estratégico para o Brasil e para a COP30 porque se tornou uma das principais vitrines diplomáticas do país na conferência. Sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a agenda de conservação voltou ao centro das negociações climáticas.
Na prática, o plano, anunciado inicialmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, propõe que países com grandes áreas de floresta tropical, como Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo, sejam remunerados pela conservação dos biomas.
A ideia é que o mecanismo funcione como uma espécie de "renda florestal global", atraindo investimentos públicos e privados para compensar o valor econômico de manter a floresta viva e não derrubá-la.
O fundo adota um modelo de investimento de renda fixa voltado ao financiamento climático e pretende mobilizar cerca de R$ 625 bilhões (US$ 125 bilhões) ao combinar aportes de países e fundações com emissões de títulos no mercado.
A operação usa alavancagem financeira para multiplicar o capital inicial por meio de dívida de baixo risco, aplicando o dinheiro em ativos globais de renda fixa com foco em investimentos seguros e sustentáveis.
A diferença entre o rendimento obtido e o valor pago aos investidores será usada para remunerar países que preservam florestas tropicais, com critérios como pagamento anual por hectare preservado, destinação mínima de 20% a povos indígenas e comunidades locais e proibição de investimentos em carvão, petróleo e gás.
O ponto de partida do TFFF é reconhecer que, hoje, a destruição das florestas ainda gera mais retorno econômico imediato do que a conservação.
A extração de madeira, a abertura de áreas para agricultura e a expansão urbana seguem lucrativas no curto prazo, enquanto manter as florestas intactas, embora essencial para o clima e a biodiversidade, ainda não gera receita direta suficiente aos países responsáveis por essas áreas.
Por isso, o fundo foi criado para alterar essa lógica, com pagamentos por desempenho que recompensam financeiramente a manutenção das florestas. O cálculo se baseia em dados de monitoramento por satélite e padrões técnicos acordados internacionalmente.
A cada hectare de floresta preservado, o país receberia um valor anual, que diminuiria em caso de aumento do desmatamento ou degradação.
O objetivo é criar um incentivo previsível que ligue a conservação a ganhos financeiros constantes, tornando a proteção florestal compatível com metas de desenvolvimento.
Diferente do REDD+, que recompensa pela redução de emissões, o TFFF propõe pagamento direto pela floresta em pé, indo além da lógica estrita do carbono.
Enquanto o REDD+ se baseia em emissões evitadas (gerando créditos de carbono), o TFFF busca financiamento contínuo e previsível, estimado em cerca de US$ 4 por hectare preservado por ano, captado no mercado financeiro global.


