A Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, na noite de segunda-feira (17), quando ele tentava deixar o país. A Operação Compliance Zero apura uma possível ligação do empresário com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o uso do mercado financeiro para lavar dinheiro.
De acordo com o Ministério Público de São Paulo (MPSP), o empresário teria envolvido o Atlético-MG em um esquema de lavagem de dinheiro da facção ao usar aportes no clube por meio de uma estrutura de fundos de investimento.
Em 2023 e 2024, Vorcaro investiu R$ 300 milhões no Atlético ao comprar 26,9% da Galo Holding S.A., que controla 75% das ações da SAF do clube. O dinheiro entrou via Galo Forte Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia (Galo Forte FIP), alimentado por outros fundos, em um arranjo no qual fundos investem em fundos, e não diretamente em ativos.
O capital do Galo Forte FIP tem origem nos fundos Olaf 95 e Hans 95, administrados pela Reag Investimentos, alvo da Operação Carbono Oculto. Segundo as investigações, o Olaf 95 transferiu R$ 15 bilhões ao fundo Astralo, que distribuiu aplicações em 35 fundos, entre eles o Galo Forte FIP, seu único cotista.
Desde 2023, o Galo Forte FIP investiu exclusivamente na Galo Holding S.A., com aportes de R$ 100 milhões no primeiro ano e R$ 200 milhões no segundo. Para o Ministério Público paulista, essa estrutura serviu para ocultar patrimônio e lavar recursos do PCC, repetindo o padrão visto na Carbono Oculto.
A Carbono Oculto desarticulou um esquema bilionário de lavagem no setor de combustíveis que alcançou o mercado financeiro formal. Ao todo, 49 postos foram interditados no Piauí, Maranhão e Tocantins por suspeita de participação no esquema.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Piauí, as irregularidades começaram a ser notadas em 2023, após a compra da Rede de Postos HD pelos investigados. O valor da operação e a criação repentina de empresas acenderam o alerta.
Conforme a mesma secretaria, operadores financeiros do PCC realizaram aquisições na região da Faria Lima, em São Paulo. O esquema utilizava postos de combustíveis, empresas de fachada, fundos de investimento e fintechs para lavar dinheiro e esconder os reais beneficiários.
A Receita Federal identificou uma rede de fundos em cascata — com veículos que tinham apenas um cotista, outro fundo —, modelo que dificulta rastrear a origem do dinheiro. Esse arranjo foi observado no Galo Forte FIP. A operação envolvendo o fundo de Vorcaro foi registrada na CVM e administrada pela Trustee DTVM, também investigada.
Com o investimento, Vorcaro passou a deter 20,2% das ações da SAF do Atlético, com influência em decisões e assento no conselho consultivo de futebol. A maior parte das ações segue com Rubens e Rafael Menin (41,8%), além de Ricardo Guimarães (6,3%) e do FIGA (6,7%).
À época da Operação Carbono Oculto, o Atlético afirmou não ter conhecimento de irregularidades na origem dos recursos investidos por Vorcaro.
A Carbono Oculto foi uma megaoperação que reuniu PF, Receita Federal, Ministérios Públicos, polícias civis e militares, Agência Nacional do Petróleo e órgãos estaduais.
Já a Compliance Zero investiga a emissão de títulos de crédito falsos por instituições do Sistema Financeiro Nacional. As apurações miram uma fraude de R$ 12,2 bilhões ligada à tentativa de compra do Banco Master, de Daniel Vorcaro, pelo BRB, banco estatal do Distrito Federal.

